O
Banco Central desempenha papel essencial para o bom funcionamento das economias
de mercado, mediante condução adequada da política monetária.
Entre os muitos instrumentos disponíveis para alcançar o principal objetivo da
instituição – manter a estabilidade do poder de compra da moeda – estão as
operações compromissadas e permanentes, que viabilizam as operações de
mercado aberto.
Antes
de avançarmos, é importante detalhar os conceitos supracitados. As operações de
mercado aberto são utilizadas para regular a quantidade de moeda em circulação
na economia e a taxa de juros vigente no País. Se o objetivo do governo é de enxugar
a liquidez, o governo vende títulos da dívida que constam na sua carteira para
o mercado, retendo esse excesso de moeda. Isso constitui uma política
monetária contracionista. Caso a finalidade seja de elevar a liquidez, o governo
compra títulos em circulação do mercado, injetando moeda na economia. Nesse
caso, temos uma política monetária expansionista. O BC pode afetar a quantidade
de dinheiro temporariamente (operações compromissadas) ou definitivamente
(operações permanentes).
Aqui,
cabe uma importante observação: a autoridade monetária brasileira está proibida
de emitir títulos de sua responsabilidade desde maio de 2002, conforme
estabelecido na Lei de Responsabilidade Fiscal. Desde então, o BC utiliza
títulos emitidos pelo Tesouro Nacional para realizar as operações de mercado
aberto, que nada mais representam do que a contração de dívida junto ao mercado. Portanto, parte do endividamento brasileiro viabiliza importante componente da política monetária.
Antes
de entrarmos na discussão sobre os depósitos remunerados, convém lembrar que as
operações compromissadas aumentaram muito ao longo dos últimos anos. É
possível atestar, também, que essas guardam uma correlação bastante
interessante com as reservas internacionais brasileiras, conforme o gráfico
abaixo. O processo de acumulação de divisas por parte do Banco Central envolve, em um primeiro momento, a
compra de dólares e a venda de reais. Isso, por si só, seria suficiente para
alcançar esse propósito. No entanto, esse dinheiro em circulação na economia
provocaria um aumento da inflação. Para evitar isso, o BC retira esse excesso
de moeda, numa operação chamada de “esterilização”, através da venda de títulos da
dívida da sua carteira.
Operações compromissadas e reservas internacionais
(Em R$ nominais e US$ nominais)
O objetivo do governo a partir da instauração dos depósitos remunerados junto ao Banco Central é de recompensar (mediante uma taxa de juros) as aplicações voluntárias das instituições financeiras para controlar a liquidez da economia. Consequentemente, não haveria necessidade de recorrer ao Tesouro Nacional para alcançar esse fim, ou seja, não haveria majoração do endividamento. Nesse
cenário hipotético, taxas elevadas de juros gerariam incentivos para depositar recursos junto ao BC (menos liquidez no mercado),
enquanto taxas baixas estimulariam operações de crédito por parte dos bancos. Os dados mostram que
o estoque de operações compromissadas alcançou R$ 1,01 trilhão em dezembro de 2015,
equivalente a 17% do PIB brasileiro. Destarte, se os todos as operações
compromissadas fossem substituídas pelos depósitos remunerados,
haveria uma redução de 17 pontos percentuais da dívida como proporção do PIB.
O
governo argumentou que esse formato já é adotado em países como os Estados
Unidos e também na Zona do Euro. Todavia, a proposta do governo não foi
clara, e pode gerar ainda mais problemas para o futuro. Em
primeiro lugar, o governo não detalhou qual será a lógica usada para remunerar
esses depósitos, sendo esse um ponto nevrálgico. Convém lembrar que se a taxa de
juros for mais baixa que a SELIC, não haverá nenhuma atratividade por parte das instituições financeiras, o que significa que o instrumento perde efeito. Se, por outro lado, a taxa
praticada for mais elevada que a SELIC (algo que provavelmente iria ocorrer, uma vez que não
há lastro nos títulos públicos como as operações compromissadas), o Banco Central certamente incorrerá em
prejuízos que precisarão ser cobertos por novas emissões de dívidas no futuro. Dito de outra forma, na medida em que os juros dos depósitos precisarão ser pagos, isso aumentaria
ainda mais o déficit nominal do Setor Público e, por conseguinte, o endividamento necessário para cobrir
esse rombo. Em suma, o alívio de curto prazo sobre a dívida poderá ser trocado por uma situação ainda pior a médio e longo prazo.
Fonte dos dados: Banco Central
Operações Compromissadas - Notas para a imprensa do BC (Mercado Aberto - Tabela 36)
Reservas Internacionais - Conceito Liquidez - Série 3546 do SGS