As
estatísticas do PIB mostram que a indústria brasileira apresenta o pior desempenho entre
os grandes setores da economia desde 2012. O objetivo deste artigo é analisar a produção do setor secundário ao longo dos anos recentes e discutir brevemente
as expectativas com relação ao seu futuro.
A
retração do nível de atividade da indústria desde o último trimestre de 2013
vem na esteira da diminuição gradual dos incentivos tributários e creditícios
por parte do governo, que exacerbou a perda de competitividade originada pelo
crescimento de diversos custos de produção – logísticos, tributários,
trabalhistas, entre outros. Além disso, a própria recessão econômica, iniciada
no segundo trimestre de 2014 (de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos
Econômicos da FGV), contribuiu para tornar a situação ainda pior.
O
gráfico abaixo mostra a evolução da produção industrial a partir de janeiro de
2011, na série com ajustamento sazonal. Desde então, o volume produzido pelo
setor secundário caiu 15,9%.
Produção industrial do Brasil - série com ajustamento sazonal
(Número-índice: jan/11 = 100)
Ao
longo dos últimos 29 meses, ou seja, desde março de 2014, a produção industrial recuou na comparação interanual (mês contra igual período do ano anterior).
Em nenhum momento da série histórica (iniciada em janeiro de 2002) houve recessão tão longa e intensa.
Produção industrial do Brasil
(Variação % em relação ao mesmo mês do ano anterior)
O desempenho da
indústria também pode ser avaliado pelo índice de difusão. Essa variável mede o percentual dos produtos investigados pelo IBGE cuja variação acompanha o sentido do índice mensal (na comparação
interanual). Portanto, desde março de 2014, o dado mostra quantos produtos
apresentaram queda no volume físico produzido. A última estatística indica, por
exemplo, que a cada 100 mercadorias pesquisadas, 66 sofreram recuo.
Difusão do indicador mensal da produção industrial do Brasil
(Em %)
O
gráfico abaixo mostra a dispersão entre a variação interanual da produção industrial
e o índice de difusão. Existe uma correlação negativa bastante significativa
entre ambas: ou seja, quanto mais intensa a redução na produção, mais espraiada
tende a ser queda entre os bens investigados, resultando num indicador de difusão mais
positivo.
Difusão do indicador mensal e produção industrial do Brasil
A
boa notícia é que a produção industrial – na série livre de influências
sazonais – já apresenta 5 meses de crescimento ininterrupto. Na comparação interanual, a intensidade do recuo tem diminuído desde o início de 2016 – assim como o índice de difusão. A análise deste conjunto de variáveis permite afirmar, com alguma segurança, que o setor secundário atingiu o "fundo do poço". Todavia, é importante lembrar que o crescimento atual é bastante favorecido
pela base de comparação muito deprimida.
A
tendência é de que a trajetória de recuperação continue, porém em ritmo lento. O mercado
interno deve permanecer desaquecido diante da necessidade de ajustes no
orçamento do Setor Público e da desalavancagem (redução das dívidas) do setor
privado, incluindo famílias, empresas e bancos. Ademais, não existe
perspectiva de crescimento da demanda externa sem o firmamento de acordos
comerciais do Brasil com mercados relevantes. Essa perspectiva é corroborada pelas projeções de mercado do Relatório FOCUS: em 2017, a produção industrial deve crescer apenas 0,5% em
comparação com 2016.
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