Quando o Banco Central do Brasil modifica as
taxas básicas de juros da economia (SELIC), vários são os efeitos gerados sobre
outras importantes variáveis. Isso é conhecido, dentro da literatura adequada,
por mecanismos de transmissão da política monetária. Os principais serão
tratados nos próximos parágrafos.
Em
primeiro lugar, a taxa de juros real, ou seja, a taxa nominal descontada a
inflação, afeta as decisões de investimento e poupança dos indivíduos.
Isso porque, no primeiro caso, os juros representam o custo de oportunidade do
investimento: os projetos dos empresários serão cada vez mais viáveis do ponto
de vista econômico quanto maior for a distância da taxa de retorno do empreendimento em relação à SELIC. Caso contrário, valerá a pena aplicar o capital e receber a remuneração com um risco
praticamente inexistente de calote. Para a poupança, o raciocínio é análogo.
A
SELIC também exerce papel fundamental sobre o crédito. Se a taxa básica se
eleva, o Banco Central desincentiva as instituições financeiras comerciais a
concederem operações de crédito. Essa diminuição impacta, por exemplo, os
recursos contraídos pelas famílias que se destinam à compra de bens de consumo.
Destaca-se
também a influência sobre a taxa de câmbio. Quanto maior a taxa básica de
juros, mais forte tende a ser o Real em comparação com o Dólar. Isso porque, mantidas as
outras variáveis constantes, os juros mais altos tendem a atrair
capital estrangeiro para o nosso País, em busca dos rendimentos mais altos. A
elevação da oferta de moeda estrangeira acaba por diminuir o seu valor frente à
moeda doméstica.
Também
há o efeito sobre a expectativa dos agentes. Uma política monetária conduzida de uma forma não adequada pode acabar contaminando negativamente o que os
agentes econômicos esperam, por exemplo, sobre o comportamento futuro da
inflação.
O
último aspecto aqui tratado diz respeito ao efeito riqueza dos agentes. Quanto
menor os juros, maior acaba sendo o valor das ações (decorrente de um aumento
da procura por esses papeis) e dos títulos públicos carregados pelas pessoas.
Abaixo,
há um exemplo sobre um dos mecanismos de transmissão da política monetária. O
gráfico traça conjuntamente a taxa SELIC mensal e o endividamento das famílias em
relação à renda acumulada dos últimos 12 meses (excluindo o crédito
habitacional) entre janeiro de 2005 e fevereiro de 2015. Há uma correlação
negativa significativa entre as variáveis, ou seja, juros mais baixos tendem a estimular
o endividamento, e vice-versa. Essa relação era esperada, uma vez que o montante a ser pago pelos financiamentos se reduz a partir de uma diminuição dos juros, permitindo um maior endividamento.
Taxa de Juros (SELIC-Over) e endividamento das famílias (excluindo crédito habitacional)
(Em % ao mês e % em relação à renda acumulada nos últimos 12 meses)
Esse fator deverá contribuir para obstruir ainda mais o canal de crescimento via consumo das famílias 2015, uma vez que os efeitos das recentes elevações da SELIC deverão ser ainda maiores até o final do ano.
Fontes: Taxa de Juros (SELIC-Over): BCB.
Endividamento das famílias excluindo crédito habitacional: BCB (Série 20400 do SGS).