O
crescimento brasileiro ao longo dos últimos anos foi fortemente baseado na
demanda. Além da promoção de reajustes do salário mínimo acima da inflação, que
elevou o poder de compra dos trabalhadores, o governo despejou crédito nos
bancos públicos e provocou mudanças na legislação que viabilizaram, por
exemplo, a contratação de crédito consignado. Esse conjunto de elementos ajuda
a explicar os motivos pelos quais o endividamento das famílias avançou desde
meados da década passada. O objetivo desse artigo é confrontá-lo com o desempenho
do nível de atividade.
O
gráfico abaixo mostra a evolução de duas séries históricas ao longo do tempo: o
IBC-BR – variável usada para “aproximar” o comportamento do PIB – e o estoque
de dívida das famílias como percentual da renda acumulada pelas mesmas ao longo
dos últimos 12 meses. Em princípio, não se deve esperar nenhuma relação a priori entre ambas: o aumento da
geração de riquezas eleva o denominador da razão supracitada, mas também
permite que o consumidor tome mais dívidas porque sua capacidade de pagamento
melhora, ou seja, expande-se o numerador.
IBC-BR e endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada nos últimos doze meses
(IBC-BR: série com ajuste sazonal jan/05 = 100; endividamento das famílias em %)
Entretanto,
a correlação entre ambos os índices é positiva e bastante forte. Uma das
hipóteses possíveis para explicar esse fenômeno diz respeito a aspectos
culturais: a sociedade brasileira, de forma geral, é menos “paciente”, ou seja,
atribui maior valor para o consumo em detrimento da poupança. Como já sabemos,
correlações não permitem dizer nada sobre a causalidade. Do ponto de vista
econômico, faz sentido admitir que a atividade econômica interfira na renda e,
por conseguinte, no indicador de endividamento. A inversão do sentido da
análise também é factível: na atual conjuntura, por exemplo, o alto patamar de
obrigações financeiras ajuda a deprimir ainda mais a atividade econômica, dado
que as famílias necessitam sanear suas dívidas para voltar a tomar recursos
emprestados. É provável, destarte, que se trate de um caso de simultaneidade
entre ambas as variáveis.
O
comportamento recente dessa relação nos últimos meses mostra que o desafio do
governo é considerável. Como o nível de endividamento é relevante, há pouco
espaço para o uso desse expediente visando aumentar o PIB. Para que esse cresça
ao mesmo tempo em que aquele diminua (ou permaneça estável), torna-se necessário
incentivar o lado da oferta da economia.
Fonte: BCB.
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