quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Qual a relação entre o endividamento das famílias e o PIB?



O crescimento brasileiro ao longo dos últimos anos foi fortemente baseado na demanda. Além da promoção de reajustes do salário mínimo acima da inflação, que elevou o poder de compra dos trabalhadores, o governo despejou crédito nos bancos públicos e provocou mudanças na legislação que viabilizaram, por exemplo, a contratação de crédito consignado. Esse conjunto de elementos ajuda a explicar os motivos pelos quais o endividamento das famílias avançou desde meados da década passada. O objetivo desse artigo é confrontá-lo com o desempenho do nível de atividade.


O gráfico abaixo mostra a evolução de duas séries históricas ao longo do tempo: o IBC-BR – variável usada para “aproximar” o comportamento do PIB – e o estoque de dívida das famílias como percentual da renda acumulada pelas mesmas ao longo dos últimos 12 meses. Em princípio, não se deve esperar nenhuma relação a priori entre ambas: o aumento da geração de riquezas eleva o denominador da razão supracitada, mas também permite que o consumidor tome mais dívidas porque sua capacidade de pagamento melhora, ou seja, expande-se o numerador.

IBC-BR e endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada nos últimos doze meses
(IBC-BR: série com ajuste sazonal jan/05 = 100; endividamento das famílias em %) 
Entretanto, a correlação entre ambos os índices é positiva e bastante forte. Uma das hipóteses possíveis para explicar esse fenômeno diz respeito a aspectos culturais: a sociedade brasileira, de forma geral, é menos “paciente”, ou seja, atribui maior valor para o consumo em detrimento da poupança. Como já sabemos, correlações não permitem dizer nada sobre a causalidade. Do ponto de vista econômico, faz sentido admitir que a atividade econômica interfira na renda e, por conseguinte, no indicador de endividamento. A inversão do sentido da análise também é factível: na atual conjuntura, por exemplo, o alto patamar de obrigações financeiras ajuda a deprimir ainda mais a atividade econômica, dado que as famílias necessitam sanear suas dívidas para voltar a tomar recursos emprestados. É provável, destarte, que se trate de um caso de simultaneidade entre ambas as variáveis.


O comportamento recente dessa relação nos últimos meses mostra que o desafio do governo é considerável. Como o nível de endividamento é relevante, há pouco espaço para o uso desse expediente visando aumentar o PIB. Para que esse cresça ao mesmo tempo em que aquele diminua (ou permaneça estável), torna-se necessário incentivar o lado da oferta da economia.

Fonte: BCB.

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