A
dinâmica inflacionária é um dos objetos de análise mais recorrentes no campo da
macroeconomia. Os últimos anos foram marcados pelo intenso crescimento do nível
geral de preços, e um dos principais problemas relacionados à manutenção da
estabilidade do poder de compra da moeda diz respeito à resiliência imposta pelo avanço sistemático dos preços dos serviços. Esse tópico, inclusive, recebeu grande destaque na
ata da última reunião do Banco Central, realizada nos dias 18 e 19 de outubro. O
objetivo deste texto é mostrar a relação existente entre a inflação dos
produtos do setor terciário e o mercado de trabalho brasileiro.
O
gráfico abaixo mostra a dispersão entre a variação dos preços dos itens relacionados aos Serviços
do IPCA e a taxa média de desemprego, ambas medidas em percentual anual, no
período entre 2006 e 2015. A medida do número de desocupados em relação à
população economicamente ativa foi obtida a partir dos dados da Pesquisa Mensal
do Emprego, que já foi desativada pelo IBGE. A dispersão e a linha de
regressão, que mostra o melhor ajuste às observações, evidencia a relação
negativa entre ambas. Nesse caso, uma maior inflação dos serviços está
associada, em média, a menores taxas de desemprego, e vice-versa.
Inflação dos serviços (IPCA) e taxa média de desemprego
(Variação % anual)
Do
ponto de vista econômico, quanto menor é a taxa de desemprego, menor é a
ociosidade existente no mercado de trabalho. Nesse caso, cada trabalhador sem
ocupação é mais disputado pelas empresas. Para atraí-lo, as firmas oferecem
salários mais altos. Diante da elevação da renda das famílias, os serviços são
mais demandados, e os seus preços, por conseguinte, aumentam. Por outro lado, quando a economia está em recessão, a concorrência entre os ofertantes de mão de obra se
eleva. Esse excesso de oferta provoca uma redução do preço de equilíbrio neste
mercado, ou seja, dos salários. Consequentemente, existe uma menor pressão de
demanda sobre os Serviços.
A expectativa de que o mercado de trabalho continue se deteriorando até meados do ano que vem
contribui para conter o avanço do nível geral de preços. Esse fator, dentro do balanço de riscos da inflação, favorece
o prolongamento do ciclo de redução da taxa básica de juros da economia
(SELIC), iniciado na semana passada, por parte do Comitê de Política Monetária (COPOM).
Portanto, parte da explicação da inflação
persistentemente alta ao longo dos últimos anos, sobretudo dos serviços, pode
ser atribuída ao aperto do mercado de trabalho. Já em momentos de crise, a elevação da taxa de desemprego contribui para manter a
inflação mais bem comportada.
Fonte: IPCA dos serviços e taxa de desemprego (IBGE).