quarta-feira, 20 de abril de 2016

Envelhecimento da população e Previdência Social: uma bomba relógio

Conforme apontado por esse blog, as transformações demográficas esperadas para o Brasil ao longo dos próximos anos deverão contribuir para tornar a situação da Previdência Social muito mais grave em relação ao que já ocorre hoje. O objetivo desse texto é aprofundar essa discussão, trazendo as projeções mais recentes do IBGE.

A população potencialmente ativa (PPA) é definida pelo grupo de pessoas entre 15 e 64 anos. Esse conjunto, portanto, está apto para realizar atividades laborais e pode contribuir com a Previdência Social. Por sua vez, a casta acima de 65 anos está habilitada para receber os benefícios previstos caso as exigências legais sejam atendidas.

As estimativas populacionais para diferentes categorias etárias da população foram realizadas pela última vez em 2013. O gráfico abaixo mostra a razão entre a PPA e o número de idosos (acima de 65 anos). Dito de outra forma, a divisão entre ambos mostra quantos potenciais contribuintes existem para cada possível beneficiário do sistema. Os dados mostram que, atualmente, a proporção é de 9 para 1. Ao longo dos próximos anos, esse quociente tende a cair rapidamente, devendo alcançar aproximadamente 2 em 2060.

Projeções para a razão entre a população potencialmente ativa e o número de idosos do Brasil
(Em unidades)


É fundamental, portanto, que as regras para a requisição dos benefícios da Previdência Social sejam revistas, evitando a derrocada do sistema.

Fonte: IBGE.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Previdência Social no Brasil: uma bomba relógio



As discussões envolvendo a Previdência Social são da mais alta ordem de importância para a economia brasileira. Isso se explica não só pelo estado falimentar dessas contas na atualidade, como também pela possibilidade de que o sistema venha a ruir se não houver mudanças. Por exemplo, no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que inclui os trabalhadores celetistas, o déficit em 2015 foi de R$ 91,8 bilhões. Já no Regime Próprio de Previdência Social, obrigatório para os funcionários estatutários do Governo Federal, a diferença entre as contribuições e os benefícios foi negativa em R$ 96,1 bilhões no ano passado. Enquanto no primeiro caso há 25,5 milhões de beneficiários, no segundo há aproximadamente um milhão.


O objetivo artigo é analisar alguns dos elementos que justificam a insustentabilidade do atual sistema.


Optou-se, para tanto, o confrontamento dos gastos públicos com Assistência Social (como proporção do PIB) com a participação da população com 65 anos ou mais em relação ao total de habitantes para 121 países. A primeira variável incorpora não só a Previdência Social (incluindo aposentadorias e pensões), como também os benefícios assistenciais. A fonte dos dados é o World Development Indicators de 2010, do Banco Mundial. É importante destacar que essas informações têm como referência os mais variados anos. O segundo indicador também é do Banco Mundial, sendo que as datações escolhidas foram rigorosamente iguais as do primeiro, de modo a tornar a comparação viável.


A priori, devemos esperar uma relação direta entre ambas: quanto mais idosa a população, maior tende a ser o número e, consequentemente, o valor dos benefícios concedidos. De fato, há uma forte correlação positiva entre ambas conforme o gráfico abaixo - confirmando a hipótese inicial. O Brasil está indicado no ponto vermelho e o que mais se descola da linha que gera o melhor ajuste aos dados. Isso significa que enquanto nossa população é relativamente jovem em comparação a inúmeras nações, nossas despesas com Assistência Social são geriátricas.

Gastos públicos com Assistência Social e percentual da população com 65 anos ou mais
(% do PIB e %)


O economista Fábio Giambiagi, um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, recomenda duas ações de política fundamentais para corrigir o déficit da Previdência.


(1) Revogar a regra de correção do salário mínimo, que garante, na pior das hipóteses, a reposição de toda a inflação verificada no período anterior. 

Segundo o economista, dois em cada três benefícios concedidos pela Previdência são indexados pelo SM. Esse fato tem gerado aumento dos passivos, em função da política governamental de valorização dessa remuneração ao longo dos últimos 20 anos.

(2) Estabelecer idades mínimas para a aposentadoria. 

O Brasil é um dos poucos países do mundo para os quais não há qualquer barreira com relação à idade mínima. Um dos principais problemas diz respeito à expectativa de envelhecimento da população brasileira ao longo das próximas décadas, que tende a reduzir o número de contribuintes ante o de beneficiários. Esse tema será tratado de maneira mais aprofundada em outro artigo.


Em suma, a Previdência Social do Brasil é fonte geradora de grandes desequilíbrios nas contas públicas. Se ações não forem tomadas com urgência, só restarão duas alternativas: (a) aumentar impostos e/ou (b) cobrir o rombo com emissão de moeda ou endividamento. Não é difícil concluir que ambas são péssimas do ponto de vista econômico.

Fonte: WDI 2010 (Public expenditure on pensions).