segunda-feira, 26 de junho de 2017

Índice de Surpresa Inflacionária

Mesmo em um ambiente contaminado por incertezas de ordem política e econômica, o cenário inflacionário representa um dos poucos elementos capazes de auxiliar o processo de retomada. A dinâmica favorável do IPCA, as expectativas bem ancoradas, a atividade combalida, o comportamento benigno dos preços dos alimentos e a adoção de um comprometimento futuro com o ajuste fiscal (PEC do Teto) são algumas das causas responsáveis pelo atual ciclo de queda da SELIC. A redução da taxa básica de juros, entre outros efeitos, melhora a situação financeira dos consumidores e dos empresários, aumentando sua propensão ao consumo, aos investimentos e aos demais tipos de gastos.
O objetivo deste artigo é mostrar como o Índice de Surpresa Inflacionária pode ser útil, especialmente para os analistas cujo interesse é a política monetária brasileira.
O indicador é composto pela diferença entre (1) a mediana das previsões do mercado financeiro do Relatório FOCUS, do Banco Central e (2) a inflação efetiva, calculada pelo IBGE. Com relação ao primeiro, foram selecionadas as últimas estimativas para cada mês, exatamente um dia antes da divulgação da estatística oficial. É justamente a distância entre a expectativa feita com o melhor conjunto de informação disponível pelo mercado e o dado consolidado que chamamos de “surpresa”. Valores positivos indicam que o IPCA, calculado pelo IBGE, foi inferior à expectativa, e vice-versa.
O gráfico abaixo mostra a soma acumulada em 12 meses da Surpresa Inflacionária para toda a série histórica, com início em março de 2001. Em primeiro lugar, destaca-se que a variável permaneceu no terreno negativo ao longo da maior parte desse período, mostrando especial resiliência entre 2008 e 2016, anos para os quais o IPCA fechou próximo ou mesmo acima da meta de inflação de 6,5%. Nesse período, como demonstram os índices de credibilidade, o Banco Central teve dificuldades em ancorar as expectativas, o que gerou, além da aceleração da inflação, surpresas inflacionárias negativas. Você pode conferir o gráfico interativo através desse link:  http://rpubs.com/oscarfrank/287540


Vale ressaltar também que o dado mais recente nunca foi tão alto: já são 0,62 pontos percentuais no acumulado em 12 meses com término em maio. Ou seja, as surpresas inflacionárias são favoráveis, o que abre espaço para que a autoridade monetária estenda o ciclo de redução dos juros mantendo o poder de compra da moeda.
Outro período interessante para análise está entre meados de 2011 e 2013, quando o Banco Central iniciou um ciclo de queda da SELIC mesmo com a inflação bastante pressionada. A surpresa inflacionária piorou ao longo de boa parte de 2012 até meados de 2013, gerando controles pontuais sobre os preços de alguns dos produtos monitorados pelo governo visando o cumprimento da meta, além de grande uso dos swaps cambiais para evitar a desvalorização da taxa de câmbio e, consequentemente, seus impactos sobre os preços (efeito pass-through). Com o esgotamento da estratégia e o recrudescimento das pressões inflacionárias, a política monetária tornou-se contracionista. Resultado? Os juros mais altos em 10 anos.
Em suma, a surpresa inflacionária positiva é um dos elementos que sustenta a atual postura por parte do Banco Central. Entretanto, são necessárias outras medidas para que esse processo se prolongue de maneira consistente, sem prejudicar os fundamentos. Isso só é possível a partir de ações que enfraqueçam o caráter estrutural da inflação, como, por exemplo, o combate à elevada indexação e às pressões de demanda oriundas do Setor Público.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Comentário sobre a mudança do centro da meta de inflação para 2019


O Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá reduzir a meta de inflação de 4,5% para 4,25% a partir de 2019, em reunião a ser realizada no próximo dia 29, conforme notícias do Valor e do Infomoney.

O nível supracitado aproxima o Brasil dos demais países que também operam sob o mesmo regime monetário, embora a distância ainda seja relevante, especialmente com relação aos desenvolvidos. A meta de inflação nos Estados Unidos, Zona do Euro e Japão, por exemplo, é de 2,0%, e de 3,0% para nações emergentes como o Chile, Colômbia e México. 

Há, inegavelmente, uma janela de oportunidade para promover essa revisão, uma vez que as expectativas dos agentes de mercado para 2019, 2020 e 2021, conforme o último Relatório FOCUS do Banco Central, se encontram ancoradas justamente em 4,25%. Ou seja, o mercado acredita que a mudança é crível, dado o conjunto de informação disponível até o momento.

Entretanto, o Sistema de Metas pressupõe, entre tantos outros fatores, o equilíbrio fiscal como condição fundamental para o seu sucesso. Sem reformas para controlar os gastos, a pressão de demanda sobre a inflação continuará relevante, o que obrigará a autoridade monetária a adotar taxas de juros mais altas para atingir o objetivo proposto. Nesse cenário, a atividade econômica é mais lenta, o custo do endividamento do governo é maior e há maior pressão para a sobrevalorização da taxa de câmbio.

A margem fiscal, ou seja, o percentual de despesas passível de contingenciamento por parte do governo federal é muito pequena, totalizando apenas 9% orçamento. A aprovação da PEC do Teto foi importante, mas requer um conjunto de modificações legais e constitucionais para impedir que os dispêndios, essencialmente no que tange à Assistência Social, cresçam de maneira explosiva.

Portanto, a efetividade da alteração da meta de inflação sobre o equilíbrio macroeconômico do país dependerá, em grande parte, dos esforços para adequar o tamanho do Estado aos gastos. Nesse sentido, as reformas são vitais não só para alcançar o equilíbrio fiscal, mas para modernizar o país, permitindo que a oferta se expanda para acelerar a recuperação cíclica da economia sem a corrosão do poder de compra da moeda.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Efeitos econômicos da crise do Governo Temer


Choques sobre as expectativas dos agentes costumam se manifestar sobre a economia de acordo com uma ordem pré-estabelecida. No caso da crise do Governo Temer, cuja origem remonta à delação premiada da JBS, o efeito negativo se deveu à frustração dos investidores com a possibilidade de aprovação de reformas estruturais no Congresso Nacional para modernizar a estrutura econômica e, principalmente, impedir o crescimento explosivo da trajetória dos gastos públicos e do endividamento, a partir das mudanças nas regras da Previdência Social.

O primeiro canal de ajuste se dá via reprecificação dos ativos. A Bolsa de Valores e a taxa de câmbio sofreram desvalorização, enquanto os juros dos títulos da dívida brasileira subiram na parte curta e, fundamentalmente, na parte longa da curva, fruto da maior incerteza com os desdobramentos futuros do cenário político e econômico. Ademais, os índices de confiança dos consumidores e dos empresários também devem ser afetados: ainda que não caiam de maneira relevante, podem interromper a trajetória de recuperação vista ao longo do último ano. Esse fato pode produzir efeitos contracionistas sobre a economia, uma vez que famílias mais pessimistas com relação à situação atual e às expectativas para os próximos meses aumentam sua previdência e tendem a gastar menos. Já líderes de firmas menos otimistas optam por reduzir investimentos e contratações pela perspectiva de menor demanda.

De uma maneira geral, portanto, apesar da recuperação contratada da atividade econômica no curto prazo, puxada principalmente pela supersafra agrícola e pela recuperação das exportações, sobretudo dos preços, a retomada deverá ser ainda mais lenta do que a prevista anteriormente.

A ausência de reformas faz com que a taxa de juros estrutural, ou seja, aquela que não provoca pressões inflacionárias ou desinflacionárias na economia, suba em função do aumento do prêmio de risco. Juros mais altos significam atividade mais lenta, em função do crédito mais caro, além de maior custo para a rolagem da dívida do governo. Além disso, o diferencial de juros entre o Brasil e os demais países não deverá cair tanto, o que aumenta as pressões para que a taxa de câmbio se mantenha valorizada, impedindo que o setor externo aumente sua contribuição para o crescimento econômico.

Com o hiato do produto bastante negativo, ou seja, com o PIB crescendo bem abaixo do potencial, a taxa de inflação manter-se-á baixa na ausência de choques negativos de oferta. As expectativas do Relatório FOCUS dão conta de que o IPCA, índice oficial do país, deverá encerrar 2017 em 3,71%, conforme o Relatório FOCUS, do Banco Central. Para os próximos anos, as expectativas seguem bem ancoradas, inclusive inferiores ao centro da meta de 4,5% a.a..

Por sua vez, o mercado de trabalho, que costuma reagir com defasagem com relação ao ciclo econômico, tende a permanecer deteriorado. A subutilização da mão de obra, que contempla os desempregados, os subocupados por insuficiência de horas e a força de trabalho potencial atingiu 26,6 milhões no primeiro trimestre de 2017, sendo 14,2 milhões de desempregados. Isso impede que a massa de salários da economia cresça de maneira sustentada, o que produz impactos nefastos sobre a capacidade de consumo das famílias e, principalmente, sobre o setor de serviços.

A aprovação das reformas econômicas não deveria fazer parte de uma política partidária, mas sim de um projeto de país. Entretanto, sabemos que essa não é a realidade do Brasil com a atual representação política no Congresso. As eleições de 2018 compõem outro elemento que pode trazer ainda mais volatilidade ao longo dos próximos meses, e piorar as atuais projeções para as principais variáveis macroeconômicas.
 
 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Medida da utilização da capacidade da economia brasileira usando o R

Esse vídeo apresenta a medida de utilização da capacidade da economia brasileira, do economista Regis Bonelli (FGV/IBRE), entre os anos de 1940 e 2016. Mostro onde os dados estão disponíveis e comento brevemente sobre a metodologia e os resultados. Por fim, avalio o que se pode esperar para o nível de atividade no futuro com base nas estatísticas apresentadas.
Acesse o gráfico interativo feito no R e verifique você também a evolução da série histórica: http://rpubs.com/oscarfrank/277251