Segunda edição do "Papo de Economia" traz entrevista com o professor Cláudio Shikida (IBMEC-MG).
A conversa está disponível no seguinte link: SoundCloud
terça-feira, 19 de maio de 2015
sábado, 16 de maio de 2015
O que esperar da inadimplência no futuro?
A
elevação da inadimplência pode trazer uma série de efeitos indesejáveis do
ponto de vista econômico. Quando os tomadores de recursos atrasam as suas
obrigações financeiras, as receitas de venda das empresas não dão conta de
cobrir os custos incorridos para a produção de bens e serviços. Algumas das
possíveis consequências desse descompasso são: (1) atraso no pagamento de
fornecedores, (2) elevação do desemprego e (3) fechamento de firmas e menor
geração de riquezas. Portanto, tentar antever o comportamento desse importante
indicador pode gerar bons elementos para avaliar a situação econômica brasileira.
O
Índice de Risco de Crédito (IRC), do Boa Vista SCPC, avalia a probabilidade dos
consumidores que buscaram crédito nos últimos 12 meses se tornarem
inadimplentes no futuro. Temos aqui um candidato a indicador antecedente da
variável central desse post. Resta saber se os dados nos dão algum indicativo
que venha a corroborar com essa relação.
De
fato, conforme o gráfico abaixo, se adiantamos o IRC em 2 trimestres, é
possível visualizar de maneira mais precisa a forte correlação existente entre
essa e a inadimplência das pessoas físicas com recursos livres, de acordo com
os dados do Banco Central do Brasil. Caso o ajustamento entre ambas se
mantenha, temos uma evidência de que a inadimplência apresentará elevação significativa no terceiro trimestre de 2015, retornando para os
mesmos patamares de 2014 (algo entre 5,6% e 5,8%). Haveria, portanto, uma inversão
da sua tendência, iniciada no final de 2012 (a série histórica
inicia em 2011). Segundo a classificação do BCB, uma inadimplência numa
operação de crédito ocorre quando há um atraso superior a 90 dias no pagamento.
Índice de Risco de crédito (Adiantado em 2 trimestres) e inadimplência das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas
(Número-índice: 4ºT/2010 = 100 e %)
É importante lembrar
que tanto os bancos privados quanto os públicos se tornaram muito mais
seletivos em relação à concessão de crédito ao longo dos últimos meses. Nem
mesmo essa precaução extra deverá ser suficiente para ajudar a impedir
o aumento da inadimplência. Isso denota o delicado quadro da economia
brasileira, uma vez que os salários em termos reais estão caindo, dificultando a quitação das obrigações em dia.
Fontes: IRC - Boa Vista SCPC
Inadimplência das operações de crédito com recursos livres (PF) - BCB (Série 21112 do SGS).
terça-feira, 12 de maio de 2015
Custo com os swaps cambiais: mais um fardo para o ajuste fiscal
A partir do segundo semestre
de 2013, o Banco Central do Brasil se engajou numa tentativa de controle da
taxa de câmbio através dos swaps
cambiais tradicionais, equivalentes a venda de dólares no mercado futuro. O
objetivo da autoridade monetária brasileira era ajudar a conter o efeito que a desvalorização
da taxa de câmbio gera sobre a inflação, o chamado "pass-through". Isso porque quanto maior a cotação, mais elevado é o
custo das importações de bens e serviços em moeda nacional. O gráfico abaixo
mostra a forte elevação do estoque de intervenções ao longo dos últimos
meses.
Intervenções do Banco Central no mercado de câmbio
(Em US$ bilhões de dólares equivalentes)
Um swap cambial tradicional é um contrato que envolve duas partes:
investidores e Banco Central. Toda a vez que a variação cambial ao longo do período
vigente for superior à taxa SELIC, a autoridade monetária cobre essa diferença, e
vice-versa. Quando os agentes financeiros dispõem dessa proteção (hedge) contra variações bruscas da
cotação, menor tende a ser a sua demanda por moeda forte (dólares) em momentos
de turbulência, o que diminui as pressões de alta sobre o seu valor.
Todavia, essa política tem gerado alguns efeitos colaterais indesejáveis na economia, principalmente no âmbito fiscal. O gráfico abaixo mostra o
resultado do custo das operações de swaps do Banco Central (em milhões de reais
deflacionados pelo IPCA até abril do presente ano) e a variação da
taxa de câmbio média do mês de referência em relação ao período imediatamente
anterior. O eixo vertical da direita está invertido, o que mostra de maneira
mais clara a correlação (negativa) existente entre as duas séries: quanto
mais desvalorizada a taxa de câmbio (cotação mais elevada), pior é o resultado
da autoridade monetária do Brasil com esse instrumento.
Custo dos Swaps e variação da taxa de câmbio em relação ao mês anterior (eixo invertido)
(Em R$ milhões deflacionados pelo IPCA até abr/15 e em %)
O superávit anunciado
pelo Ministério da Fazenda em 2015 (1,2% do PIB) diz respeito ao conceito
primário, ou seja, a diferença entre gastos e arrecadação, excluindo o
pagamento de juros da dívida. Os possíveis custos com swaps incorridos pelo BC são contabilizados no resultado nominal,
pois dizem respeito ao pagamento de juros. Esse fenômeno foi um dos principais responsáveis por gerar o pior
resultado fiscal para o Setor Público consolidado (União, Estados e municípios) no primeiro trimestre desde 2002, ano em que as estatísticas começaram a ser divulgadas mensalmente.
Resultado nominal do Setor Público consolidado
(Em R$ bilhões deflacionados pelo IPCA até abr/15)
Apesar de não comprometerem a meta
anunciada pelo governo, os rombos gerados obrigam o governo a cobrir a
diferença via aumento do endividamento. Esse fato também é bastante nocivo para
a economia brasileira, uma vez que, quanto maior a dívida como proporção do PIB, maior é o superávit primário necessário para manter esse indicador constante. Ou seja, déficits nominais geram a necessidade de maiores superávits
primários no futuro, seja via redução dos gastos, ou por novos aumentos de
impostos.
Fontes: Estoque de swaps cambiais (Banco Central) - Notas para a imprensa das operações de mercado aberto)
Custo com swaps (Banco Central) - Notas para a imprensa da política fiscal)
Resultado nominal (Banco Central) - Série 4016 do SGS/BACEN
Taxa de câmbio média do mês (Banco Central) - Série 3698 do SGS/BACEN
sábado, 9 de maio de 2015
Vendas do comércio brasileiro em franco declínio
Mesmo
diante da crise financeira internacional de 2008 e da desaceleração mais
intensa da economia brasileira a partir de 2011, as vendas do comércio mostravam
resiliência. A partir do segundo semestre de 2013, no entanto, nota-se uma
clara trajetória de desaceleração do crescimento dessa variável. Nesse sentido, o
objetivo desse post é tentar entender alguns dos principais drivers que afetam o setor, traçando um
panorama que ajude a dar um direcionamento sobre o seu comportamento futuro.
Entre
outros elementos, três são especialmente importantes para o segmento em questão, a
saber:
(a)
Renda
Quanto
maior a renda disponível da população, maior tende a ser a elevação das vendas do comércio, e vice-versa.
(b)
Inflação
Se
o nível geral de preços da economia sofre persistentes altas, o poder de compra
dos salários cai, gerando redução da quantidade demandada de bens. As duas
variáveis, portanto, são negativamente relacionadas.
O
gráfico abaixo mostra a variação percentual acumulada em 12 meses entre o
índice de volume (apenas as quantidades transacionadas, sem levar em
consideração os preços) das vendas do comércio ampliado (varejo, veículos, motocicletas, partes, peças e material de construção) e a massa de
salários real. Essa última foi calculada a partir da multiplicação da população
ocupada, divulgada pelo IBGE, pelo rendimento médio real do trabalho principal,
também publicada pela mesma fonte. Esse indicador está livre dos efeitos da
inflação, permitindo assim uma comparação adequada entre as variáveis de
interesse. Contempla-se, dessa forma, os dois quesitos supracitados de uma vez só.
Volume de Vendas do Comércio Ampliado (eixo da esquerda) e Massa Salarial Real (eixo da direita)
(Variação % acumulada em 12 meses)
O
que se percebe é uma forte correlação positiva entre ambas. Chama a atenção que o
valor mais alto dessa medida ocorreu quando a massa salarial real foi atrasada
em 4 meses em relação às vendas do comércio.
(c)
Crédito
O
crédito disponível para o consumo tende a ser um elemento favorável para as
vendas do comércio. No entanto, conforme o gráfico abaixo, percebe-se que houve
uma desaceleração mais intensa no saldo do crédito para pessoas físicas voltado para a
aquisição de bens justamente a partir do segundo semestre de 2013. A série
também foi deflacionada (pelo IPCA).
Saldo de crédito real para as pessoas físicas voltado para a aquisição de bens total
(Variação % acumulada em 12 meses - deflacionada pelo IPCA)
O
simples fato de irrigar a economia com mais recursos para financiamentos também
esbarra em outro elemento importante: o endividamento das famílias brasileiras.
Um comprometimento elevado da renda das mesmas com os encargos da dívida pode não gerar mais consumo.
Em função da
perspectiva de aumento do desemprego até o final do ano, a massa salarial real
deverá continuar caindo. Além disso, parte do atual ajuste da economia
brasileira também diz respeito às condições de liberação de crédito mais
restritas por parte dos bancos. Dessa forma, há indícios de que o pior momento para o setor
ainda está por vir.
Fontes: População ocupada e massa salarial real (PME/IBGE). (Séries 2057 e 2181 do SIDRA)
Vendas do comércio ampliado (PMC/IBGE). (Série 3417 do SIDRA)
Saldo de crédito para pessoas físicas voltado para a aquisição de bens total (Banco Central). (Série 20583 do SGS).
terça-feira, 5 de maio de 2015
O preocupante quadro da indústria brasileira
O
gráfico abaixo mostra a evolução da produção industrial brasileira e mundial ao
longo dos últimos anos, ambas com ajuste sazonal. Para fins de comparação, as
séries foram devidamente transformadas e têm o mesmo ponto de partida, em
janeiro de 2002.
Produção industrial brasileira e mundial
(Índice de base fixa: jan/02 = 100, com ajuste sazonal)
Ao
longo da década passada, a indústria brasileira registrou taxas de crescimento
do volume da produção bastante significativas. O setor foi beneficiado, entre
outros fatores, pelo aquecimento da economia doméstica e pela demanda externa
em franca expansão. No entanto, a imagem acima mostra claramente que a trajetória
nacional não foi muito diferente daquela registrada pelo resto do mundo
até a eclosão da crise financeira internacional de 2008.
A
imagem também evidencia que fomos mais bem sucedidos que o resto do mundo para
sair da turbulência com mais rapidez. Isso se explica por, pelo menos, dois grandes motivos: (a)
espaço para a condução de políticas econômicas expansionistas, como redução dos
juros e aumento dos gastos e das desonerações por parte do governo e (b) excesso de capacidade ociosa,
tanto em relação às instalações das empresas, quanto da mão de obra, uma vez
que o desemprego ainda estava bem acima da chamada "taxa natural", ou
seja, do patamar que não provoca uma aceleração da inflação.
Entre
2010 e o início de 2014, a produção industrial brasileira registrou estabilidade
e, mais recentemente, tem consolidado uma tendência de queda significativa, ao
contrário do que está se passando mundialmente.
O
que tem gerado essa quadro? Uma das explicações está na
forte elevação do custo unitário do trabalho. Essa variável é definida como a
razão entre o salário médio real pago na indústria e a produtividade. Do ponto
de vista da competitividade, o ideal é que essa razão, pelo menos, se mantenha
constante, ou seja, que os custos relacionados à mão de obra (medida pela folha
de pagamento real por trabalhador da indústria) acompanhem a evolução da
produtividade (medida pela produção industrial divida pelo número de horas
pagas).
O que se percebe é
que esse indicador cresceu muito desde o início de 2010 e se manteve em
patamares bastante elevados até a metade de 2014, conforme o gráfico abaixo.
Desde então, a variável teve um recuo expressivo. A diminuição recente da
produção industrial brasileira, portanto, tem feito com que os empresários
estejam reduzindo seus custos para elevar a sua competitividade. Todavia, o patamar ainda é significativamente mais alto em comparação com o período pré-crise.
Custo unitário do trabalho - Indústria total
(Índice de base fixa: jan/02 = 100, com ajuste sazonal)
Fonte: Produção Industrial (PIM/IBGE)
Produção Industrial Mundial (CPB Netherlands)
Número de horas pagas e folha de pagamento real (PIMES/IBGE)
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