O Ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, anunciou recentemente as primeiras medidas para reequilibrar
as contas públicas. A principal delas diz respeito à Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) que será enviada para apreciação no Congresso Nacional,
cujo objetivo é limitar o avanço da despesa primária federal à inflação
registrada no ano anterior. Caso seja aprovada, os dispêndios em 2017 poderão
crescer, no máximo, 7,04%, caso as expectativas de mercado contidas no Relatório
FOCUS para o IPCA se confirmem. Convém lembrar que essa medida só se tornará
efetiva mediante revogação das vinculações constitucionais e legais, que
exigem o cumprimento mínimo de gastos em determinadas áreas.
Apesar de não ser recente,
as discussões em torno desse tema nunca surtiram efeito prático. O objetivo
desse post é simular a evolução da despesa da União se algum tipo de
contingenciamento tivesse sido aprovado no passado.
O gráfico abaixo contempla
três séries históricas. A primeira diz respeito aos valores anuais efetivos do
dispêndio primário federal como proporção do PIB desde 1997. A segunda mostra o que aconteceria se a proposta dos antigos ministros Antônio Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) fosse implementada pelo governo Lula, a partir de 2006. Nesse caso específico, os dispêndios estariam vinculados ao
crescimento do PIB, o que significa que a relação entre ambos não se alteraria
ao longo do tempo. Entretanto, a proposta foi barrada pela então chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff, que afirmou naquela oportunidade que “gasto corrente é vida”. Em 2015, a
diferença entre o realizado e esse primeiro cenário é de 1,8 ponto percentual do
PIB. Isso responde por aproximadamente 2/3 do déficit primário máximo esperado pelo governo
nesse ano (R$ 170,5 bilhões).
Despesa primária federal (efetiva e simulada)
(Em % do PIB)
Por sua vez, a simulação 2 considera a hipótese segundo o qual a regra proposta pelo atual governo já estivesse em vigor desde 2006. A medida
representa um controle muito maior em relação à limitação pelo PIB.
Em 2015, a diferença em comparação com os gastos primários efetivos alcançaria
8,1% do Produto Interno Bruto. Isso responde por cerca de 90% do déficit nominal do
governo projetado para 2017, ou seja, aquele que inclui o pagamento dos juros da dívida.
As hipóteses assumidas em ambos os casos incluem o cumprimento efetivo das regras, além da manutenção dos valores
referentes ao PIB e ao IPCA. Apesar da simplicidade
das contas, é possível ter uma ideia da mudança de trajetória dessa variável fundamental. O fato de termos ignorado a janela de oportunidade na década passada para reformar o gasto público nos obriga a proceder um amplo ajuste fiscal em plena recessão.
Fonte dos dados:
Despesas primárias efetivas (Ministério da Fazenda)
PIB (IBGE)
IPCA (SGS-BACEN)
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