No
mês de Janeiro de 2015, escrevi que o Brasil era o campeão mundial de
insustentabilidade fiscal. Ou seja, a economia necessária por parte do Setor Público
para estabilizar o nível de endividamento era a maior entre 40 dos principais
países do mundo. Agora, depois de mais de um ano, refaço esse exercício a partir das estatísticas mais recentes. A metodologia segue a mesma e o seu detalhamento pode ser
encontrado nesse link.
Três
variáveis são usadas para o cômputo do superávit sustentável. Os juros reais - taxa SELIC descontada da inflação projetada para os próximos 12
meses - aumentaram um ponto percentual, de 5,4% para 6,4% ao ano (dados da Moneyou, referentes ao último janeiro). Por sua vez, a relação
dívida/PIB cresceu de 62,6% em 2014 para 72,5% em 2015, de acordo com o Banco
Central. Ademais, o Brasil mergulhou numa profunda recessão: o PIB passou de +0,1% em 2014 para -3,8% no ano passado (última estimativa do Relatório
FOCUS, do Banco Central).
Em função da significativa deterioração de todos os indicadores, o superávit primário sustentável brasileiro passou de 3,5% para 8,0% do PIB. Trata-se de um valor muito superior a outros
países, incluindo a Grécia (3,8%), conforme os dados abaixo. Supondo que o PIB nacional de 2015 encerre o
ano totalizando R$ 6 trilhões, isso representaria cerca de R$ 480
bilhões: montante dezesseis vezes maior do que o anunciado como o objetivo a ser perseguido pelo governo em 2016, de 0,5% do PIB (apenas R$ 30 bilhões). Convém lembrar, ainda, que a Junta Orçamentária - composta por Fazenda, Planejamento e Casa Civil - está avaliando se permite uma flexibilização dessa meta, estabelecendo uma banda para flutuação
que autorize a geração de um déficit de 1,0% do PIB.
Ao
longo de 2016, portanto, as evidências sugerem que o nível do endividamento brasileiro
como proporção do tamanho do PIB continuará aumentando muito. Tal fato tem importantes consequências sobre a classificação da dívida soberana e as
taxas de juros, além de outras importantes variáveis macroeconômicas. Em suma,
nossa situação fiscal é desesperadora.
Boa tarde..
ResponderExcluirQual o motivo de Venezuela ser -28,6??
Olá Anônimo,
ResponderExcluirA explicação passa pela elevada inflação na Venezuela. Por conseguinte, a taxa de juros real é extremamente baixa, gerando distorção na estatística do superávit sustentável. Isso também ocorre (ainda que em menor escala) na Argentina. Portanto, não podemos afirmar que ambos são casos de solidez fiscal: muito pelo contrário!
Obrigado pela participação.
Certo.. obrigado Oscar..
ExcluirParabéns pelo blog!!