A
taxa de câmbio ganhou destaque no noticiário econômico das últimas semanas, em
função da rápida e intensa valorização do Real frente ao Dólar. Para entender
um pouco mais sobre as razões desse fenômeno e sobre os limites de sua
extensão, vamos confrontar o desempenho da moeda brasileira com outras quatro
ao longo dos últimos dois anos e meio. O objetivo é mostrar que tanto fatores
no âmbito internacional quanto nacional atuam na formação desse importante
preço da economia.
O
gráfico abaixo mostra o percentual de desvalorização em relação ao Dólar para
cinco moedas de nações emergentes, tendo como referência a cotação de 02 de
janeiro de 2014. Além do Real, foram selecionadas o Rand (África do Sul), o Peso
Chileno, o Peso Mexicano e a Lira Turca. Esses são alguns exemplos das chamadas
“moedas-commodity”, ou seja, quando
os produtos básicos têm grande representatividade na pauta de exportação
do país, de tal modo que seus fluxos cambiais estão bastante atrelados aos
movimentos dos preços desse tipo de mercadoria.
Taxa de câmbio - Brasil e moedas de países emergentes selecionadas
(% de desvalorização em relação à cotação de 02/01/2014)
Os
dados mostram, em primeiro lugar, que todas perderam ao valor em relação ao Dólar.
Logo, há evidências de um movimento internacional de fortalecimento do Dólar.
Tal fato pode ser explicado pela melhora na economia dos Estados Unidos, que justifica
o processo de normalização das condições monetárias, ou seja, de aumento
gradual das taxas de juros, que se mantiveram em mínimas históricas entre dezembro
de 2008 e dezembro de 2015.
É
possível separar o horizonte de tempo do gráfico em três períodos distintos. No
primeiro momento, entre janeiro e setembro de 2014, a moeda brasileira era a
mais valorizada entre todas. Naquela ocasião, estava em vigor um rígido processo
de controle da taxa de câmbio, através da política de swaps cambiais tradicionais do Banco Central do Brasil, cujo
estoque aumentou barbaramente entre 2013 e 2014 (superando a casa dos US$ 100
bilhões). O objetivo principal era evitar o descontrole inflacionário.
A
partir da reeleição da presidente Dilma, e aliado ao processo de aprofundamento
dos desequilíbrios econômicos, a taxa de câmbio apresenta desvalorização
superior aos pares internacionais até janeiro desse ano. A deterioração da confiança, o reajuste dos
preços monitorados, o desequilíbrio fiscal, a Operação Lava-Jato e a
incapacidade da chefe do Executivo em liderar qualquer processo de mudança
levaram a perda do grau de investimento da economia brasileira. Convém lembrar também que, em março de 2015, o
Banco Central anunciou que não aumentaria o estoque das intervenções no mercado
de câmbio, apenas rolando os contratos já existentes.
No
terceiro momento, a partir de fevereiro, o processo de impedimento da Presidente
Dilma ganhou força, o que diminuiu a percepção de risco por parte do mercado. Como resultado, o Real
acabou convergindo para a média das outras moedas. É
por esse motivo que não existe mais muito espaço para que a moeda brasileira ganhe ainda
mais valor em comparação com o Dólar, pelo menos no curto prazo.
Se, por um lado, a confiança no Brasil aumentar como fruto, por exemplo, da aprovação de
reformas, a valorização deverá ser ainda maior. Caso as notícias no
campo econômico sejam ruins e o ajustamento na taxa de juros dos Estados Unidos seja maior do
que o esperado, a tendência é de desvalorização.
Interessante, a análise. Mas não leva em consideracão o fato de que o presidente interino vai tentar obter respaldo popular, através da desvalorizacão do Dólar. Com isso, o consumo irá aumentar, os alimentos ficarão mais baratos, bem como as viagens.
ResponderExcluirObrigado pelo elogio.
ExcluirEssa foi uma das estratégias do governo Lula para manter a popularidade elevada, gerando aumento da riqueza das famílias e inflação bem comportada. Entretanto, acredito ser pouco provável vermos o Dólar perdendo ainda mais valor em comparação com o Real. As intervenções recentes no mercado de câmbio mostram que o Banco Central não está confortável com uma cotação inferior a R$ 3,20. Além disso, em função da magnitude da crise no mercado interno, a taxa de câmbio tem feito com que setor externo ajude a economia a não afundar ainda mais.