Para compreender a origem da crise na Grécia, é
necessário voltar no tempo, quando
a Zona do Euro foi criada. Devido ao peso econômico do bloco, os investidores
apostaram que a nova moeda manter-se-ia forte em relação às demais, sobretudo
em função da credibilidade exercida pela Alemanha e pela Holanda. Em função
disso, atraídos por um prêmio de risco elevado, acabaram comprando títulos da
dívida grega. O aumento da demanda por esses papeis barateou o custo de novos
endividamentos. Aliado ao ápice do período conhecido por “Grande Moderação”
houve um forte boom de crédito, dos gastos
governamentais e dos salários no País.
Vale destacar que a oferta
interna da Grécia não é capaz de prover adequadamente os bens e serviços que a
Grécia necessita. Sua estrutura econômica é notadamente pouco diversificada.
Para se ter uma ideia, somente o setor de turismo representa 17,9% do produto
total. Destarte, o crescimento verificado até 2008 só foi possível através da
poupança externa. Conforme o gráfico abaixo, o déficit em transações correntes
como proporção do PIB passou de 7,4% em 2000 para 14,5% em 2008.
Resultado das Transações Correntes da Grécia
(Em % do PIB)
No entanto, o cenário mudou a
partir de 2008, com a eclosão da crise financeira internacional. O aumento da aversão
ao risco causou uma elevação da incerteza e repercutiu intensamente sobre a
Grécia. Os investidores passaram a exigir uma taxa de juros muito maior para
conceder novos empréstimos. Tal fato, somado à rigidez dos gastos contratados
nos anos anteriores, gerou déficits fiscais elevados. A dívida como proporção
do PIB passou de 108,7% para 177,1% do PIB em 2014.
Usualmente, economias que estão com
o Balanço de Pagamentos desajustado promovem uma desvalorização da taxa de
câmbio. Isso tende a incentivar as exportações e desestimular as importações,
ajudando no processo de reequilíbrio das contas externas. Todavia, a Grécia não
pode realizar uma política cambial independente, uma vez que a moeda na Zona do
Euro é única. Nesse caso, só resta a alternativa de realizar uma
“desvalorização interna”, ou seja, reduzir preços e salários de modo a tornar
as exportações mais competitivas. Todavia, essa questão é especialmente
delicada, pois o seu setor exportador é muito pouco diversificado e competitivo. Esse processo impôs um custo bastante elevado do ponto de vista do nível de atividade
para o País: o PIB já caiu em ¼ desde 2008. Por outro lado, as contas externas tiveram um ajustamento considerável, de acordo com os dados apresentados.
A falta de dinheiro para arcar com todos os
compromissos gerou a necessidade de resgates para tentar tirar a Grécia do buraco. Até o ano passado, o partido que estava no
governo não exercia oposição em relação às medidas de austeridade impostas
pelos credores internacionais para a concessão de empréstimos. O então governo acreditava que esse
caminho viabilizaria uma retomada do crescimento sustentado.
No entanto, uma nova recessão no último trimestre de
2014 potencializou a candidatura de Alexis Tsipras do Syriza (partido de
extrema-esquerda), eleito com uma plataforma
completamente distinta em comparação com o governo anterior anterior. As rusgas envolvendo os credores e o atual comando da Grécia sobre o grau de profundidade das reformas necessárias ao País consolidaram o atual quadro.
O gráfico abaixo mostra a
correlação existente entre o PIB acumulado em 4 trimestres e o Índice de
Sentimento Econômico ao longo dos últimos anos. Há uma forte correlação
positiva entre ambas, ou seja, um melhor desempenho do nível de atividade está
ligado, na média, a uma melhor percepção dos respondentes sobre o ambiente
econômico.
Índice de Sentimento Econômico e PIB da Grécia
(Número-índice: 1ºT/2002 = 100 e variação % acumulada e 4 trimestres)
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