segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O preço pago por não sabermos matemática



Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Círculo da Matemática do Brasil evidenciou outra faceta lamentável da educação brasileira. Aproximadamente três quartos da população adulta consultada não sabe realizar operações triviais, como médias simples. Além disso, essa parcela não compreende sequer o que representam frações ou mesmo percentuais. A investigação teve ampla divulgação na mídia ao longo dos últimos dias e gerou grande repercussão. O objetivo desse texto é entender de que forma a matemática está relacionada com o processo de geração de riquezas dos países.


Nossa situação poderia ser menos desalentadora se os jovens que estão na escola hoje desempenhassem bem nessa disciplina, o que poderia melhorar os testes com os adultos no futuro. Contudo, os resultados do PISA, um dos exames internacionais mais respeitados no que tange à avaliação de estudantes adolescentes (entre 15 e 16 anos), mostram que o quadro brasileiro é ainda mais preocupante.


O gráfico abaixo mostra a pontuação obtida em matemática na avaliação conduzida pela OCDE e o PIB per capita, medido em dólares para um conjunto de 60 países. Ambas as variáveis referem-se ao ano de 2012 para fins de comparação (último ano do teste). A relação encontrada é elucidativa: países mais ricos, em média, apresentam melhores resultados em matemática e vice-versa. O Brasil está destacado no ponto laranja e obteve apenas a 58ª posição no ranking.

 Desempenho na prova de matemática no PISA e PIB per capita - 2012
(Em pontos e US$)

Algumas nações - cinco, ao todo - foram propositadamente retiradas do gráfico para tornar a correlação mais forte. Os Emirados Árabes Unidos e o Catar tiveram notas baixas (48ª  e 63ª posição), mas as suas rendas per capita são bastante elevadas em função da abundância de petróleo. As outras três exclusões foram Luxemburgo, Vietnã e China, na 29ª, 17ª e 4ª colocações, respectivamente. Em relação à última, convém destacar que o total de riquezas por pessoa é muito pequeno devido ao tamanho da população (cerca de 1,36 bilhão de habitantes). No entanto, espera-se que, ao longo do tempo, esse ajustamento ocorra, ou seja, que o nível do PIB por pessoa se adeque ao excelente resultado na prova de matemática.

Em suma, pagamos com miséria o preço por não sabermos matemática. A falta de prosperidade torna mais difícil a retenção de talentos e a provisão adequada de serviços essenciais para toda a população.

Fonte: OCDE

4 comentários:

  1. Correlação não indica causalidade. Isso é o básico de econometria. Esse mesmo tipo de análise é usada por economistas heterodoxos que defendem protecionismo, e que trabalhos mais respeitados demonstram não ser eficiente. Acho válido mostrar os dados, mas é pouco para concluir algo, muitos outros fatores podem influenciar o PIB per capita.
    E o argumento para tirar a China é um pouco duvidoso. Tem sim uma população maior, mas o PIB é maior também. Não concordo, mas talvez não tenha entendido bem.

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  2. Prezado Anônimo,
    Tenho plena ciência que correlação não indica causalidade. Quando comento sobre o gráfico, deixo bem claro que se trata do primeiro caso, e não do segundo.
    Esse blog foi criado com o objetivo de tratar assuntos diversos sobre Economia e análise de conjuntura de uma maneira mais objetiva. Os artigos têm um caráter muito mais jornalístico e bem menos acadêmico. Não é minha pretensão esgotar discussões bastante amplas e complexas em um único texto. No entanto, se você ler meus outros textos, vai ver que em alguns deles procurei abordar sobre outros fatores que podem influenciar o PIB per capita.
    Eu concordo com você que o argumento para tirar a China é o mais fraco de todos. Todavia, não consegui pensar em nada melhor. Se você tiver alguma sugestão, por favor, me avise.
    Muito obrigado.

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  3. Interessante seu site. Obviamente você sabe que analises de duas variáveis não ajudam muito. Entretanto sei que analises multivariada dão um trabalhão para se fazer de graça ou por hobby.
    Sobre matemática lembro-me de uma pesquisa divulgada pela CBN SP onde alunos bons de matemática faziam engenharia ... e acredite se quiser ... os alunos ruins tendiam a ser professores. Eternizando o baixo desempenho.
    Isso também me lembra da faculdade. Os licenciaturas de Física eram cult mas um colega do curso me revelou que muitos se formam sem saber cálculo. Enquanto na eletrônica (que fiz) onde começou com 40 se formou 3 e muitos colegas abandonavam para fazer licenciaturas "que era mais fácil e tinha mais mulher! (concordo com este ultimo)"!

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