O objetivo desse texto é
compreender de que forma as mudanças da política monetária dos Estados Unidos afetam a taxa de câmbio.
A expansão monetária usada a
partir da crise financeira internacional de 2007-2008 para recolocar a economia
americana numa trajetória de crescimento sustentado não encontra precedentes na
história. No entanto, diante dos sinais cada vez mais consistentes de
recuperação da atividade econômica daquele País, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) vem diminuindo parte dos
estímulos até então adotados, como a injeção mensal de dólares na economia para
reduzir as taxas de juros de longo prazo e dos financiamentos imobiliários. A
expectativa agora gira em torno do momento em que os juros de curto prazo (fed funds, equivalente a taxa SELIC no
Brasil) subirão.
Convém lembrar que a relação
entre moeda e juros é inversa. Intuitivamente, a elevação da primeira faz com
que os agentes econômicos tenham mais recursos disponíveis para fazer a
alocação em títulos da dívida. O aumento da demanda por esses papéis provoca um
encarecimento dos seus preços (lei da oferta e da demanda). Portanto, um título
mais caro é aquele que rende menos.
Os juros de longo prazo,
medidos pelos títulos da dívida americana com vencimento em 10 anos, foram
negociados no mercado em patamares historicamente baixos no pós-crise, refletindo
exatamente a percepção dos agentes econômicos sobre o intuito do FED em dar suporte
a recuperação da economia americana via política monetária expansionista.
O gráfico abaixo traça duas
séries históricas: o retorno dos títulos da dívida do governo dos EUA com
maturidade de 10 anos e a taxa de câmbio (em Reais por Dólares). Vale destacar
que o incremento significativo dos juros, em maio de 2013, ocorreu muito antes
do início da retirada, de fato, das estímulos (que só começou em dezembro
daquele ano), exatamente quando o FED anunciou que estava estudando a
possibilidade de diminuir o Quantitative
Easing (ver texto). O mercado acabou precificando, com bastante
antecedência, esse efeito.
Retorno dos Títulos da dívida do governo dos EUA de 10 anos e Taxa de Câmbio
(Em % a.a. e R$/US$)
Com o aumento dos juros, a
economia americana se torna mais atrativa pare receber investimentos em relação
a outros lugares do mundo. Os capitais, portanto, tendem a sair de outros
países (incluindo o Brasil) e migrar para os EUA. A ampliação da procura por
dólares (e diminuição da demanda por reais) gerou uma taxa de câmbio
desvalorizada. Logo, naquela oportunidade, há uma evidência de que os
fundamentos externos impactaram a cotação. A aderência entre as variáveis
permaneceu relativamente boa até agosto do ano passado.
Todavia, a partir de
setembro de 2014, a taxa de câmbio apresentou uma tendência de forte
desvalorização e volatilidade, se descolando do movimento das taxas de juros
dos EUA. Setembro e outubro passados foram marcados pelo acirramento da disputa na
Presidência da República: pesquisas que apontavam o fortalecimento da então
candidata Dilma Rousseff geravam desvalorização do câmbio, e vice-versa. Nos
meses seguintes, questões como as indefinições em torno da equipe econômica,
perspectivas de baixo crescimento e os escândalos de corrupção na Petrobrás
causaram o enfraquecimento do Real perante o Dólar. Nesse segundo momento,
consequentemente, as questões de ordem interna têm pesado mais sobre a taxa de
câmbio.
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