O modelo econômico posto em
marcha pelo PT, desde sua ascensão ao poder em 2003, apresenta um traço característico
evidente: as políticas foram direcionadas para o fortalecimento da demanda, em
detrimento da oferta. Uma das principais foi a regra de reajuste do salário
mínimo, que garantiu aumento real ao poder de compra da população.
Convém lembrar que esse
paradigma econômico só conseguiu ser sustentável (gerando crescimento e
inflação sob controle) até meados de 2011 porque todas as condições abaixo
contribuíram para esse fim. São elas:
a) Manutenção da condução da
política econômica adotada pelo governo FHC, catapultando os investimentos de
residentes e não residentes.
b) Boom das commodities, que
proporcionou um crescimento significativo através do setor externo (ver texto "Brasil: um País de Commodities").
c) Como conseqüência de b),
houve valorização da taxa de câmbio real (real relativamente mais forte em
comparação com o dólar), aumentando fortemente o poder de compra da moeda até
2011 e tornando o consumo de importados mais barato.
d) Existência de capacidade
ociosa na economia, sobretudo de mão de obra.
e) Grande margem de manobra
da política econômica: por exemplo, medidas expansionistas pelo lado monetário
(queda da taxa de juros) e fiscal (redução de impostos e aumento dos gastos)
foram usadas em 2009 para contrabalançar os efeitos da crise, sem que isso
provocasse desajustes do ponto de vista macroeconômico.
f) Forte crescimento econômico mundial.
O governo insistiu na
continuidade do modelo após 2011 e os vetores acima se esgotaram. Resultado: economia estagnada e alta inflação (estagflação). No gráfico abaixo, vemos a acentuação do
descasamento entre oferta (produção industrial) e demanda (vendas do comércio)
após a crise financeira internacional de 2008-09.
Produção industrial e Vendas do Comércio Ampliado do Brasil (ajustadas sazonalmente)
Índice de base fixa: jan/03 = 100
Esse descolamento foi possível graças a um forte aumento das importações, conforme o gráfico
abaixo. Entre 2003 e 2014, o volume de importações (que leva em consideração
somente a quantidade, e não o preço) cresceu 157,0%.
Volume de importações do Brasil (Média móvel em 12 meses)
Índice de base fixa: jan/03 = 100
Sustentar o modelo via aumento das importações não é mais possível, dado o elevado déficit das
Transações Correntes (ver texto "Qual o motivo do rombo das contas externas?"). A solução para esse problema, portanto, passa pela
adoção de medidas que privilegiem o lado da oferta, diminuindo assim o chamado
"Custo Brasil".
Fontes: Produção Industrial e Vendas do Comércio (IBGE) - SIDRA (séries de número 3653 e 3417).
Volume de Importação: FUNCEX. Série acessada via IPEADATA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário