terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O governo brasileiro é Keynesiano? Só pela metade...

Um dos principais fatos estilizados em Economia diz respeito ao movimento cíclico do nível de atividade, verificável para países com características bastante distintas entre si. Como consequência, temos que uma das principais funções do Setor Público, preconizada nos manuais sobre o tema, diz respeito ao seu caráter estabilizador. Por um lado, quando há expansão do PIB acima da média, o Setor Público atua na contenção dos gastos – gerando assim uma poupança –, de modo a evitar um superaquecimento da economia e o desencadeamento de um processo inflacionário. Por outro, em períodos recessivos, a União, os estados e municípios devem incorrer em políticas fiscais expansionistas (aumento das despesas e/ou redução dos tributos advindas da poupança prévia) para estimular a demanda agregada. Essa era uma das principais bandeiras defendidas por John Maynard Keynes, no seu livro a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.

Esse padrão é verificável no caso do Brasil? Os dados do gráfico abaixo mostram a demanda privada doméstica (soma do consumo das famílias com o investimento) e o consumo da administração pública, ambas corrigidas pela variação nos preços e com a mesma unidade de medida (variação % acumulada em quatro trimestres). Caso essa hipótese seja, de fato, verdadeira, devemos esperar, a priori, que as duas séries estejam se movendo em direções opostas, ou seja, que a correlação entre ambas seja negativa.

Consumo do governo (volume) e demanda privada doméstica (corrigida pelo IPCA)
(Variação % acumulada em 4 trimestres)

A análise dos dados mostra que, entre 1997 e 2002, isso ocorria na nossa economia. Contudo, a partir de 2003, as variáveis começam a caminhar na mesma direção, algo que se intensifica a partir de 2009, quando os efeitos da crise financeira internacional foram sentidos no Brasil. Há, portanto, uma evidência conflitante em relação às práticas entendidas como adequadas para a gestão dos recursos públicos desde o início do mandato do PT.

Com base nos dados, é possível afirmar que o governo brasileiro é Keynesiano, mas só pela metade.

Fontes: Consumo do governo - IBGE (Tabela 1620 do SIDRA); Consumo das famílias e investimento - IBGE (Tabela 1846 do SIDRA) e IPCA - IBGE (Tabela 1419 do SIDRA).

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