quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A economia brasileira chegou ao "fundo do poço"?



A parceria entre a Conference Board e a FGV resultou no desenvolvimento de dois tipos de indicadores para o nível de atividade do Brasil: um coincidente e outro antecedente. O primeiro tenta antever a direção do ciclo econômico nos meses subsequentes, enquanto o segundo está em alinhado – do ponto de vista temporal – com a trajetória do PIB. Vários dos textos deste blog já demonstraram exemplos de ambos os casos, mostrando sua utilidade dentro da análise de conjuntura.


Os relatórios divulgados periodicamente mostram os resultados para os últimos seis meses em relação ao período de referência. Além disso, as publicações ressaltam as influências de cada uma das variáveis que compõem esses índices. De posse dessas informações, o objetivo desse texto é averiguar se existem evidências que permitam afirmar que a economia brasileira atingiu o “fundo do poço”. O gráfico abaixo mostra a evolução do indicador antecedente e do coincidente nos últimos seis meses, assumindo dezembro de 2015 como o valor de referência (100). Enquanto esse registra certa estabilidade, aquele demonstra crescimento.

Indicador coincidente e antecedente do PIB do Brasil
(% de variação em relação à base: dez/15)

Para avançarmos nessa análise, devemos estudar a evolução das influências desagregadas do indicador antecedente a cada mês, conforme a tabela abaixo.

Principais influências mensais das variáveis do indicador antecedente do PIB do Brasil
(Em pontos percentuais)



A leitura dos dados mostra três destaques principais. O primeiro deles fica por conta da elevação dos índices de expectativa com relação aos próximos seis meses. A confiança aumentou consistentemente a partir de abril, quando o processo de impeachment da presidente Dilma ganhou força no Congresso Nacional. Conforme visto em outras oportunidades, famílias mais otimistas tendem a gastar mais e são mais suscetíveis a demandar crédito. Por sua vez, empresários da indústria realizam mais investimentos produtivos, que visam ampliar a capacidade produtiva da economia. Ademais, os donos dos estabelecimentos dos serviços tendem a expandir seus empreendimentos.


Outro fator positivo diz respeito à elevação dos termos de troca. Isso significa que a razão entre os preços de exportação e os de importação das mercadorias aumentou, ou seja, a receita obtida com a venda dos bens nacionais permite adquirir mais produtos estrangeiros em valor. A explicação desse fenômeno passa pela majoração dos preços dos produtos básicos (commodities), que representam 45,6% da pauta de exportação do BR. Ao longo do primeiro semestre, a cotação do petróleo e do minério de ferro, por exemplo, cresceram aproximadamente 30% na comparação com o mesmo período de 2015.


Por fim, a Bolsa de Valores também registrou valorização substancial nos últimos seis meses, fruto, entre outras coisas, da melhora na percepção sobre a condução da política econômica no futuro. Isso pode ser atribuído à expectativa de redução dos intervencionismos que fizeram com que as empresas estatais sofressem ingerências, resultando na perda de boa parte do seu valor de mercado.

Em suma, existem evidências que nos permitem afirmar que chegamos ao “fundo do poço”. No entanto, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para recuperar todas as perdas incorridas ao longo de 2015 e 2016.

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