terça-feira, 30 de agosto de 2016

Interpretação econômica do indicador de protesto de títulos



Os efeitos da recessão econômica que atinge o Brasil são nefastos para a iniciativa privada. O recuo da demanda – aliado aos gargalos já conhecidos no lado da oferta – causou prejuízos para algumas firmas, enquanto outras encerraram suas atividades. Os prejuízos sobre o fluxo de caixa das empresas resultam, entre outros efeitos, na incapacidade de pagamento das dívidas contraídas para sustentar suas operações. O objetivo desse artigo é analisar o indicador de títulos protestados de pessoas jurídicas, relacionando-o com a atual conjuntura.


Compilado a partir das informações coletadas junto aos cartórios de todas as regiões do país, o índice da Boa Vista SCPC procura medir o grau de inadimplência das firmas. Na medida em que as condições econômicas são desfavoráveis, ou seja, quando há queda no PIB, espera-se um aumento da quantidade de débitos em atraso, uma vez que a renda diminui, e vice-versa. Portanto, a relação esperada entre ambas as variáveis é negativa.


O gráfico abaixo mostra a série histórica referente à variação percentual acumulada em 12 meses para o índice de títulos protestados das pessoas jurídicas e o Índice do Banco Central (IBC-BR), usado para “aproximar” o comportamento do PIB. De fato, a expectativa a priori em relação à crença inicial se confirmou.

Índice de Títulos Protestados (Pessoa Jurídica) e IBC-BR
(Variação % acumulada em 12 meses)


Os dados mostram que o indicador de títulos protestados parece antecipar, em certo grau, os movimentos do IBC-BR. Uma das hipóteses capazes de explicar esse fenômeno diz respeito ao efeito em cascata que o retardo nos pagamentos das obrigações financeiras gera sobre a cadeia na qual a firma está inserida. Por exemplo: o calote das empresas que vendem bens finais junto aos fornecedores prejudica suas operações, e, por conseguinte, toda a estrutura produtiva à montante.


A forte taxa de crescimento dos protestos de títulos ao longo dos últimos meses - principalmente a partir de 2015 - deve causar a moderação da variação do índice daqui em diante, devido à elevada base de comparação. Também contribui para esse movimento os primeiros sinais de estabilização da economia brasileira.

Fonte: Boa Vista SCPC
BCB (Série 24363 do SGS).

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