terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Causas e possíveis conseqüências da turbulência na China


Entre maio de 2014 e junho de 2015, a Bolsa de Valores de Xangai apresentou valorização superior a 150%. Desde então, perdeu 46,7% em relação ao pico. Nesse período marcado pela tendência manifesta de baixa, houve algumas quedas diárias vertiginosas, que levaram pânico aos mercados financeiros de diferentes partes do mundo. O objetivo desse artigo é compreender quais são as causas e os riscos das recentes turbulências chinesas para a economia mundial.

Bolsa de Valores de Xangai
(Em pontos)

1) Quais são as causas?

No intuito de desenvolver o mercado de capitais, o governo chinês diminuiu as exigências necessárias para a obtenção de empréstimos voltados para investimentos no mercado de capitais. O crédito destinado para essa finalidade passou de aproximadamente US$ 65 bilhões em julho de 2014 para algo em torno de US$ 335 bilhões em junho de 2015. Como resultado, houve forte elevação na abertura de contas voltadas para a aplicação em ações.

A China tem promovido uma série de reformas no sentido de tornar a economia menos dependente da indústria, dos investimentos e do comércio exterior, transformando o consumo e os serviços nos principais vetores do crescimento. Esse processo ajuda a explicar a desaceleração do País ao longo dos últimos anos. No entanto, muitos indicadores de atividade sinalizam que o desaquecimento econômico é substancial, o que induz a venda dos papéis. Ademais, entre os novos investidores, cerca de 68% não havia completado o equivalente ao ensino médio. Ou seja, esses poupadores estão mais propensos ao chamado "comportamento de manada", o que ajuda a explicar a grande volatilidade do índice. Convém lembrar também a proibição por parte da Comissão de Valores Mobiliários da China do lançamento de Ofertas Públicas Iniciais de Ações (IPO's) por um período de quatro meses a partir de novembro passado. O governo lança mão dessegido controle para estabilizar a liquidez no mercado. Por fim, regras mais rígidas introduzidas pela CVM chinesa desde junho do ano passado, tornando mais difícil a obtenção de capital.


2) Quais medidas foram adotadas pelo governo?
  • Criação de um fundo, equivalente a US$ 19,4 bilhões para a compra de ações das maiores companhias.
  • Autorização para que fundos de pensão de governos locais pudessem investir na Bolsa.
  • Redução das taxas de juros.
  • Diminuição dos impostos sobre transações financeiras.
  • Proibição para que acionistas com participação superior a 5% no capital de uma determinada empresa realizem operações de venda ao longo de um período de seis meses.
3) Quais os riscos para a economia global?

De uma maneira geral, os riscos são pequenos. Investidores estrangeiros detêm uma parcela muito pequena do mercado acionário chinês (apenas 1,5%, de acordo com a Capital Economics). Além disso, o tamanho do mercado acionário do país asiático é diminuto em relação ao total da economia (1/3 do PIB), enquanto essa proporção é superior a 100% para os países desenvolvidos. Vale destacar também que menos de 15% do total de ativos das famílias chineses é investido no mercado de ações.

Todavia, uma queda mais forte da Bolsa pode sinalizar que a China não apresenta mais condições de ser o motor do crescimento mundial. De fato, indicadores como o consumo de energia elétrica e a taxa de vacância de propriedades mostram que a atividade econômica é bem menos intensa em relação ao que os números do PIB apresentam. O aumento da aversão ao risco derivado dessas incertezas já está levando os investidores a procurar títulos da dívida seguros, como é o caso dos Estados Unidos e da Alemanha. Com isso, os preços relativos dos ativos alteram-se, o que inclui a taxa de câmbio. Portanto, é necessário acompanhar com atenção os movimentos da Bolsa de Xangai.

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