Vários analistas e
investidores têm acompanhado com atenção a economia americana nos últimos
meses. Mais especificamente, o foco tem sido a expectativa em torno dos
próximos passos da política monetária do País, mais especificamente sobre a
elevação da taxa de juros. Conforme será visto mais adiante, esse
direcionamento é importante não só para os Estados Unidos, mas também
repercute sobre as outras nações, incluindo o Brasil.
Cabe lembrar que o Federal Reserve (FED) apresenta um mandato dual, ou seja, são dois grandes objetivos
que devem ser perseguidos: inflação de 2% a.a. e o máximo nível de emprego
possível. Os últimos comunicados do FOMC (Comitê responsável pela política monetária) enfatizam que um conjunto amplo de indicadores será
levado em consideração para fundamentar e balizar não só o timing do primeiro aumento, mas também toda a trajetória futura dos juros.
Entretanto, a análise de
alguns indicadores da economia americana vis à vis os alvos
da autoridade monetária pode ajudar a elucidar um pouco essa problemática:
- A taxa de desemprego, atualmente em 5,5% (dado de maio), ainda está acima da taxa natural estimada pelo FED (entre 5,0% e 5,2%). Ou seja, a proporção de desocupados pode cair, a partir da manutenção dos estímulos, sem que isso gere desequilíbrios do ponto de vista da inflação.
- A inflação continua abaixo da meta de 2,0% (houve estabilidade de preços nos últimos 12 meses terminados em maio). Esse comportamento, em parte, se deve ao menor preço da energia. Mesmo com a interrupção da queda dos preços das commodities, o impulso do ponto de vista monetário deverá continuar, pelo menos no curto prazo.
A cada reunião do FOMC, realizada com
espaçamentos de 45 dias, algumas projeções para importantes variáveis
econômicas dos EUA são revistas. O gráfico abaixo mostra qual a taxa de juros desejável para cada um dos dezessete membros do Comitê (que tem poder de voto em relação em
relação aos juros) para esse e os próximos anos. Quinze deles acreditam que, até o final de 2015, os juros
estarão mais altos. Esse movimento deverá persistir nos períodos seguintes,
alcançando, no longo prazo, valores entre 3 e 4% a.a.. Todavia, em comparação
com os últimos levantamentos, espera-se que essa trajetória será mais suave, refletindo a
menor expectativa de crescimento para a economia americana nos próximos anos (algo corroborado pelas projeções do FMI).
Taxa de juros desejável para cada um dos membros do FOMC nos EUA
(Em % a.a. no fim de cada período)
Outra possibilidade de
avaliar essa questão está nas apostas dos investidores do mercado financeiro.
Com base nos preços dos contratos dos juros futuros, o CME Group Research calcula a probabilidade implícita de mudanças na
política monetária. Para a próxima reunião, em julho, há 56% de chances da taxa
subir para 0,25 p.p.. Já para a
reunião que será realizada no dia 16 de dezembro, a probabilidade de uma majoração de pelo menos 0,25 p.p. é de 89%.
Probabilidade de aumento dos juros nos EUA
(Em % com base nos contratos futuros de juros)
E de que forma isso tende a
afetar o Brasil? Um dos principais canais de transmissão se dá através da taxa
de câmbio, ou seja, do preço do Real medido em dólares. Quanto mais elevado os
juros americanos, maior é o incentivo para que capitais de todo o mundo se desloquem para os Estados Unidos, desvalorizando assim as outras moedas.
Entre outros efeitos, a depreciação do câmbio tende a favorecer as exportações
e diminuir as importações, além de ser prejudicial para a inflação (uma vez que
os desembarques se tornam mais caros).
Por outro lado,
destaca-se que a elevação dos juros nos EUA representa um marco importante,
pois sinaliza a maior economia do planeta (16,1%
do PIB mundial, conforme os dados do FMI referentes ao ano de 2014) está
conseguindo apresentar sólidos fundamentos sem a necessidade de um incentivo
tão forte advindo da política monetária (cabe lembrar que, desde dezembro de
2008, em função da crise financeira, as fed
funds – equivalentes a nossa taxa SELIC – estão em patamares muito próximos
a zero). Tal fato é importante para o comércio exterior brasileiro, uma vez que o País é bastante relevante na
nossa pauta exportadora (segundo lugar no ranking de 2014, com 10,2% do total, somente atrás
da China). Dito de outra forma, há maior espaço para um aumento da demanda externa.
Fontes: Juros desejáveis pelos membros do FOMC (Link aqui)
Probabilidade de aumento dos juros nos EUA com base nos contratos futuros (Link aqui)
Nenhum comentário:
Postar um comentário