quinta-feira, 9 de abril de 2015

O perigo da inércia inflacionária

A inércia inflacionária pode ser definida como a tendência que a inflação possui em persistir no futuro. Um dos principais mecanismos que geram essa resistência para baixo da mesma diz respeito à indexação. A história econômica das décadas de 1980 e da primeira metade da década de 1990 do Brasil mostra que esse foi um elemento fundamental para desencadear o processo de hiperinflação.

Como funciona a indexação? Periodicamente, muitos salários, aluguéis e contratos de prestação de serviços são reajustados com base em algum índice de preços pré-estabelecido para um determinado período de tempo, com o objetivo de equalizá-los diante do novo poder de compra da moeda. Toda a inflação acumulada até então acaba sendo carregada para o futuro. Além disso, convém lembrar que conforme o nível de preços acelera, o mecanismo em questão se torna ainda mais nocivo para o correto funcionamento da economia.

O gráfico abaixo mostra a variação efetiva do IPCA acumulado nos últimos 12 meses no eixo vertical, de acordo com os dados do IBGE, e a inflação projetada pelo mercado financeiro para os próximos 12 meses a partir do mês de referência, conforme as informações do relatório FOCUS do Banco Central, no eixo horizontal. Os dados são mensais para o período entre janeiro de 2004 e março de 2015. O que se percebe é que há uma correlação positiva entre as variáveis: ou seja, maiores inflações hoje estão, geralmente, associadas a uma inflação maior no futuro.

IPCA efetivo nos últimos 12 meses e variação projetada para o IPCA nos próximos 12 meses em relação ao mês de referência - em %

Para 2015, espera-se uma inflação bastante elevada: 8,2% ,conforme o relatório FOCUS mais recente (02 de abril). Tendo em vista os efeitos da inércia inflacionária, isso deverá comprometer, e muito, o anúncio de que, em 2016, a autoridade monetária entregará uma inflação no centro da meta (4,5% a.a.). Se o Banco Central deseja, de fato, cumprir com essa promessa, os juros deverão subir muito, contribuindo para debilitar ainda mais a atividade econômica.

Fonte: IPCA - IBGE (Série 433 do SGS - BACEN)
Expectativas de mercado para o IPCA. (Link aqui)

2 comentários:

  1. Fala Oscar,

    Parece razoável pensar que o gráfico acima ilustra mais a importância das expectativas na inflação corrente, não? O que não muda em nada a sua conclusão, o BC deve seguir com o aperto monetário para re-ancorar as expectativas e colocar a inflação na meta.

    abs

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    1. E aí, Ihara!
      Concordo contigo, a inércia inflacionária é só um dos elementos que compõe as expectativas de inflação. No entanto, não encontrei nenhum jeito melhor de mostrar essa questão, por isso usei esse gráfico.
      Obrigado pelo comentário! Faça isso sempre, por favor!
      Abraço.

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