A
indústria brasileira passa por uma crise sem precedentes. Os dados mais recebtes do PIB
mostram que, pelo terceiro trimestre consecutivo, o setor apresentou retração
(comparação com os três meses imediatamente anteriores, na série com ajuste
sazonal). No caso do subsegmento de transformação, o quadro é ainda mais preocupante:
são dois anos de queda ininterrupta.
Um
dos principais problemas diz respeito à falta de capacidade da categoria em
repassar o aumento dos seus custos para os preços. O Indicador de Custos
Industriais (ICI), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra
que, desde o primeiro trimestre de 2010, as despesas com a produção aumentaram
27,3%. O principal destaque foi o valor da mão de obra, que avançou 51,4% nesse
período. A atual regra de reajuste do salário mínimo – inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos atrás – pode
ser apontada como uma das principais causas dessa forte majoração.
Teoricamente,
o setor deveria repassar esses incrementos para o preço de venda das mercadorias, de modo a manter a
competitividade. No entanto, isso não vem ocorrendo, o que ajuda a
explicar um pouco da atual dinâmica da indústria. Isso pode ser comprovado através dos dados do Índice de Preços
ao Produtor (IPP). Essa estatística procura captar os preços dos produtos na “porta da fábrica”, sem a
incidência de impostos e dos fretes. De acordo com esse índice, a variação acumulada
no primeiro trimestre de 2015 foi de apenas 1,9%, muito menor do que, por
exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (3,8%) e do próprio avanço dos
custos do setor secundário. Esse cresceu 3,0% entre os três primeiros meses de 2015 ante o mesmo
período de 2014.
Duas razões podem ser apontadas como causas desse fenômeno.
Em primeiro lugar, a taxa de câmbio, durante muito tempo, permaneceu
excessivamente sobrevalorizada, ou seja, o poder de compra do Real era muito
grande em relação ao Dólar, tornando as importações relativamente baratas. Diante disso,
houve um forte crescimento da concorrência com os produtos do exterior. Nesse cenário, se houvesse um repasse muito grande, as empresas corriam o risco de perder uma parcela significativa do mercado.
Além
disso, a atividade econômica está em forte declínio desde a metade do ano passado. As empresas, nessa conjuntura, recorrem ao expediente de reduzir os preços para minimizar os prejuízos.
Isso fica mais claro no gráfico abaixo. As séries históricas mostram a variação percentual
acumulada em 12 meses da produção industrial (linha clara) e do IPP (linha escura).
Há uma clara correlação positiva entre ambas: maiores valores da primeira
tendem a ser acompanhadas, em média, por uma elevação da segunda, e vice-versa.
Produção industrial e Índice de Preços ao Produtor (IPP)
(Var. % acumulada em 12 meses)
O
ajustamento da competitividade industrial pode ocorrer através de diversas
formas. Uma delas é através da desvalorização da taxa de câmbio, que ajuda a
limitar a concorrência com os importados. A outra é através da diminuição
dos salários, algo que está ocorrendo em função do aumento da taxa de
desemprego. Essas alternativas são dolorosas, mas surgem como as únicas
possibilidades viáveis no atual momento. Isso porque os problemas de ordem estrutural, ao longo
dos últimos anos, não foram atacados por parte da esfera estatal. Portanto, uma
retomada da indústria só deverá ocorrer quando houver uma real capacidade de repasse dos custos para os preços de venda.
Fonte: Produção industrial (IBGE).
Índice de Preços ao Produtor - FGV. (Série 225 do SGS/BACEN)
Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IBGE. (Série 431 do SGS/BACEN)
Índice de Custos Industriais (CNI).
Fonte: Produção industrial (IBGE).
Índice de Preços ao Produtor - FGV. (Série 225 do SGS/BACEN)
Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IBGE. (Série 431 do SGS/BACEN)
Índice de Custos Industriais (CNI).
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