quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O padrão de crescimento do Brasil




Ao longo dos últimos anos, o modelo de crescimento da economia brasileira foi amplamente pautado pelo lado da demanda, a partir da adoção de uma série de medidas. O governo promoveu, por exemplo, várias desonerações fiscais, como a redução de impostos de carros, da cesta básica, da energia elétrica, entre outros. A manutenção de uma taxa de câmbio bastante sobrevalorizada, em função do boom das commodities, também deu robustez ao consumo das famílias. Por sua vez, no que tange ao lado da oferta, além de reduções específicas de tributos (folha de pagamento, IPI, exportações de manufaturados, entre outros), houve forte expansão do crédito através do BNDES.

No entanto, a produção não avançou de maneira sustentada. Entre os motivos que podem ser explicados para esse fenômeno, estão:
  • Horizontalidade: as ações não eram direcionadas para toda a economia, mas apenas para setores específicos.
  • Temporalidade: os benefícios apresentavam uma limitação do ponto de vista da sua duração.
  • Constante mudança nas regras do jogo: as medidas eram alteradas com frequência, minando a previsibilidade dos investimentos.
  • Fechamento da economia: o “Inovar-auto”, por exemplo, que passou a exigir um mínimo de conteúdo nacional na produção de carros (para evitar uma contrapartida de aumento de impostos), retirou eficiência da produção.
Para ajudar a compreender um pouco mais essa questão, o gráfico abaixo traça duas séries históricas: a contribuição da absorção interna (definida como a soma do consumo das famílias, dos investimentos e dos gastos do governo) e do setor externo (diferença entre exportações e importações) para o crescimento trimestral da economia brasileira, na série com ajuste sazonal. Há uma clara correlação negativa entre ambas: maiores valores da primeira tendem a ser acompanhadas por números inferiores da segunda, e vice-versa.

Contribuição para o crescimento trimestral da economia brasileira
(Var. % em relação ao trimestre anterior na série com ajuste sazonal)

Essa relação entre as variáveis pode ser explicada em função da dependência do Brasil em torno da poupança externa para gerar crescimento. Dados os problemas estruturais relativos à capacidade de expansão da oferta interna (custos trabalhistas, burocracia, impostos, insegurança jurídica, logística, entre outros), a alternativa é importar bens intermediários e de capital do exterior para majorar o produto. Como a série de medidas postas em marcha pelo governo não atacou esses problemas, a economia patinou, a despeito do elevadíssimo dispêndio.

Também convém chamar a atenção para os números mais recentes, especialmente para os seis primeiros meses de 2015. Não fosse a contribuição positiva do setor externo, o PIB do presente ano teria sido ainda mais alarmante. Esse ajustamento, vale lembrar, é benéfico para a economia. No entanto, o dado do segundo trimestre aponta que o fator preponderante para a contribuição de +1,7 p.p. do setor externo foi a redução das importações (+1,3 p.p.). Ou seja, a contribuição via aumento das vendas externas (+0,4 p.p.), que gera uma correção de rota menos dolorosa do ponto de vista do crescimento, tem sido muito pequena.
 
A tendência futura é de que a absorção interna continue se deteriorando mais, enquanto o setor externo impede uma retração da atividade ainda maior. Diante de todos os problemas levantados, a contribuição do último mostra-se limitada pela fraqueza da demanda externa e pela escassez de acordos comerciais bilaterais. A única alternativa é reduzir ainda mais as importações, mas isso deverá gerar uma capacidade ainda menor de avanço do PIB no curto prazo.

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