Choques sobre as expectativas dos agentes costumam se manifestar sobre a
economia de acordo com uma ordem pré-estabelecida. No caso da crise do
Governo Temer, cuja origem remonta à delação premiada da JBS, o efeito
negativo se deveu à frustração dos investidores com a possibilidade de
aprovação de reformas estruturais no Congresso Nacional para modernizar a
estrutura econômica e, principalmente, impedir o crescimento explosivo
da trajetória dos gastos públicos e do endividamento, a partir das
mudanças nas regras da Previdência Social.
O primeiro canal de
ajuste se dá via reprecificação dos ativos. A Bolsa de Valores e a taxa
de câmbio sofreram desvalorização, enquanto os juros dos títulos da
dívida brasileira subiram na parte curta e, fundamentalmente, na parte
longa da curva, fruto da maior incerteza com os desdobramentos futuros
do cenário político e econômico. Ademais, os índices de confiança dos
consumidores e dos empresários também devem ser afetados: ainda que não
caiam de maneira relevante, podem interromper a trajetória de
recuperação vista ao longo do último ano. Esse fato pode produzir
efeitos contracionistas sobre a economia, uma vez que famílias mais
pessimistas com relação à situação atual e às expectativas para os
próximos meses aumentam sua previdência e tendem a gastar menos. Já
líderes de firmas menos otimistas optam por reduzir investimentos e
contratações pela perspectiva de menor demanda.
De uma maneira
geral, portanto, apesar da recuperação contratada da atividade econômica
no curto prazo, puxada principalmente pela supersafra agrícola e pela
recuperação das exportações, sobretudo dos preços, a retomada deverá ser
ainda mais lenta do que a prevista anteriormente.
A ausência de
reformas faz com que a taxa de juros estrutural, ou seja, aquela que não
provoca pressões inflacionárias ou desinflacionárias na economia, suba
em função do aumento do prêmio de risco. Juros mais altos significam
atividade mais lenta, em função do crédito mais caro, além de maior
custo para a rolagem da dívida do governo. Além disso, o diferencial de
juros entre o Brasil e os demais países não deverá cair tanto, o que
aumenta as pressões para que a taxa de câmbio se mantenha valorizada,
impedindo que o setor externo aumente sua contribuição para o
crescimento econômico.
Com o hiato do produto bastante negativo,
ou seja, com o PIB crescendo bem abaixo do potencial, a taxa de inflação
manter-se-á baixa na ausência de choques negativos de oferta. As
expectativas do Relatório FOCUS dão conta de que o IPCA, índice oficial
do país, deverá encerrar 2017 em 3,71%, conforme o Relatório FOCUS, do
Banco Central. Para os próximos anos, as expectativas seguem bem
ancoradas, inclusive inferiores ao centro da meta de 4,5% a.a..
Por sua vez, o mercado de trabalho, que costuma reagir com defasagem com
relação ao ciclo econômico, tende a permanecer deteriorado. A
subutilização da mão de obra, que contempla os desempregados, os
subocupados por insuficiência de horas e a força de trabalho potencial
atingiu 26,6 milhões no primeiro trimestre de 2017, sendo 14,2 milhões
de desempregados. Isso impede que a massa de salários da economia cresça
de maneira sustentada, o que produz impactos nefastos sobre a
capacidade de consumo das famílias e, principalmente, sobre o setor de
serviços.
A aprovação das reformas econômicas não deveria fazer
parte de uma política partidária, mas sim de um projeto de país.
Entretanto, sabemos que essa não é a realidade do Brasil com a atual
representação política no Congresso. As eleições de 2018 compõem outro
elemento que pode trazer ainda mais volatilidade ao longo dos próximos
meses, e piorar as atuais projeções para as principais variáveis
macroeconômicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário