quarta-feira, 14 de junho de 2017

Efeitos econômicos da crise do Governo Temer


Choques sobre as expectativas dos agentes costumam se manifestar sobre a economia de acordo com uma ordem pré-estabelecida. No caso da crise do Governo Temer, cuja origem remonta à delação premiada da JBS, o efeito negativo se deveu à frustração dos investidores com a possibilidade de aprovação de reformas estruturais no Congresso Nacional para modernizar a estrutura econômica e, principalmente, impedir o crescimento explosivo da trajetória dos gastos públicos e do endividamento, a partir das mudanças nas regras da Previdência Social.

O primeiro canal de ajuste se dá via reprecificação dos ativos. A Bolsa de Valores e a taxa de câmbio sofreram desvalorização, enquanto os juros dos títulos da dívida brasileira subiram na parte curta e, fundamentalmente, na parte longa da curva, fruto da maior incerteza com os desdobramentos futuros do cenário político e econômico. Ademais, os índices de confiança dos consumidores e dos empresários também devem ser afetados: ainda que não caiam de maneira relevante, podem interromper a trajetória de recuperação vista ao longo do último ano. Esse fato pode produzir efeitos contracionistas sobre a economia, uma vez que famílias mais pessimistas com relação à situação atual e às expectativas para os próximos meses aumentam sua previdência e tendem a gastar menos. Já líderes de firmas menos otimistas optam por reduzir investimentos e contratações pela perspectiva de menor demanda.

De uma maneira geral, portanto, apesar da recuperação contratada da atividade econômica no curto prazo, puxada principalmente pela supersafra agrícola e pela recuperação das exportações, sobretudo dos preços, a retomada deverá ser ainda mais lenta do que a prevista anteriormente.

A ausência de reformas faz com que a taxa de juros estrutural, ou seja, aquela que não provoca pressões inflacionárias ou desinflacionárias na economia, suba em função do aumento do prêmio de risco. Juros mais altos significam atividade mais lenta, em função do crédito mais caro, além de maior custo para a rolagem da dívida do governo. Além disso, o diferencial de juros entre o Brasil e os demais países não deverá cair tanto, o que aumenta as pressões para que a taxa de câmbio se mantenha valorizada, impedindo que o setor externo aumente sua contribuição para o crescimento econômico.

Com o hiato do produto bastante negativo, ou seja, com o PIB crescendo bem abaixo do potencial, a taxa de inflação manter-se-á baixa na ausência de choques negativos de oferta. As expectativas do Relatório FOCUS dão conta de que o IPCA, índice oficial do país, deverá encerrar 2017 em 3,71%, conforme o Relatório FOCUS, do Banco Central. Para os próximos anos, as expectativas seguem bem ancoradas, inclusive inferiores ao centro da meta de 4,5% a.a..

Por sua vez, o mercado de trabalho, que costuma reagir com defasagem com relação ao ciclo econômico, tende a permanecer deteriorado. A subutilização da mão de obra, que contempla os desempregados, os subocupados por insuficiência de horas e a força de trabalho potencial atingiu 26,6 milhões no primeiro trimestre de 2017, sendo 14,2 milhões de desempregados. Isso impede que a massa de salários da economia cresça de maneira sustentada, o que produz impactos nefastos sobre a capacidade de consumo das famílias e, principalmente, sobre o setor de serviços.

A aprovação das reformas econômicas não deveria fazer parte de uma política partidária, mas sim de um projeto de país. Entretanto, sabemos que essa não é a realidade do Brasil com a atual representação política no Congresso. As eleições de 2018 compõem outro elemento que pode trazer ainda mais volatilidade ao longo dos próximos meses, e piorar as atuais projeções para as principais variáveis macroeconômicas.
 
 

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