quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Inflação de serviços e mercado de trabalho: por que o Banco Central dá tanta importância para esse tema?



A dinâmica inflacionária é um dos objetos de análise mais recorrentes no campo da macroeconomia. Os últimos anos foram marcados pelo intenso crescimento do nível geral de preços, e um dos principais problemas relacionados à manutenção da estabilidade do poder de compra da moeda diz respeito à resiliência imposta pelo avanço sistemático dos preços dos serviços. Esse tópico, inclusive, recebeu grande destaque na ata da última reunião do Banco Central, realizada nos dias 18 e 19 de outubro. O objetivo deste texto é mostrar a relação existente entre a inflação dos produtos do setor terciário e o mercado de trabalho brasileiro.

O gráfico abaixo mostra a dispersão entre a variação dos preços dos itens relacionados aos Serviços do IPCA e a taxa média de desemprego, ambas medidas em percentual anual, no período entre 2006 e 2015. A medida do número de desocupados em relação à população economicamente ativa foi obtida a partir dos dados da Pesquisa Mensal do Emprego, que já foi desativada pelo IBGE. A dispersão e a linha de regressão, que mostra o melhor ajuste às observações, evidencia a relação negativa entre ambas. Nesse caso, uma maior inflação dos serviços está associada, em média, a menores taxas de desemprego, e vice-versa.

Inflação dos serviços (IPCA) e taxa média de desemprego
(Variação % anual)


Do ponto de vista econômico, quanto menor é a taxa de desemprego, menor é a ociosidade existente no mercado de trabalho. Nesse caso, cada trabalhador sem ocupação é mais disputado pelas empresas. Para atraí-lo, as firmas oferecem salários mais altos. Diante da elevação da renda das famílias, os serviços são mais demandados, e os seus preços, por conseguinte, aumentam. Por outro lado, quando a economia está em recessão, a concorrência entre os ofertantes de mão de obra se eleva. Esse excesso de oferta provoca uma redução do preço de equilíbrio neste mercado, ou seja, dos salários. Consequentemente, existe uma menor pressão de demanda sobre os Serviços.

A expectativa de que o mercado de trabalho continue se deteriorando até meados do ano que vem contribui para conter o avanço do nível geral de preços. Esse fator, dentro do balanço de riscos da inflação, favorece o prolongamento do ciclo de redução da taxa básica de juros da economia (SELIC), iniciado na semana passada, por parte do Comitê de Política Monetária (COPOM).

Portanto, parte da explicação da inflação persistentemente alta ao longo dos últimos anos, sobretudo dos serviços, pode ser atribuída ao aperto do mercado de trabalho. Já em momentos de crise, a elevação da taxa de desemprego contribui para manter a inflação mais bem comportada.

Fonte: IPCA dos serviços e taxa de desemprego (IBGE).

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