terça-feira, 30 de agosto de 2016

Você sabia? Os recursos desviados com corrupção no Brasil são maiores do que os gastos públicos em diversas áreas

De acordo com a ONU, a corrupção é responsável pelo desvio de R$ 200 bilhões por ano. Esse valor supera, em muitos casos, o total do orçamento público destinado a diversas áreas, conforme a imagem abaixo.


Você sabia? O Brasil tem a pior contrapartida em termos de oferta de serviços adequados frente à quantidade de impostos pagos

Pela quinta vez consecutiva, o Brasil registrou o valor mais baixo no Índice de Retorno de Bem-Estar Social (IRBES), calculado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) para as 30 nações com a maior carga tributária do mundo. O indicador é composto pelo IDH do respectivo país (peso de 85%) e o tamanho da carga tributária em relação ao PIB (peso de 15%).


Você sabia? O atraso do Brasil em relação à Coreia do Sul é imenso

Em 1950, o PIB per capita (medido em dólares corrigidos pela Paridade do Poder de Compra) do Brasil era, aproximadamente, três vezes maior em comparação com o da Coreia do Sul. Atualmente, essa relação se inverteu: somos 2,6 vezes mais pobres em relação ao país asiático. Os dados são da Conference Board.


Você sabia? A produtividade do fator trabalho no Brasil é muito baixa

A baixa produtividade do fator trabalho é uma das causas que impede o crescimento sustentado no Brasil. A magnitude desse atraso pode ser atestada pela imagem abaixo, que mostra o comparativo do produto por hora trabalhada entre diferentes nações para o ano de 2015, de acordo com a Conference Board. Tomando o valor do Brasil como base, contata-se a existência de uma defasagem, inclusive, em relação aos pares da América Latina, como Uruguai, Argentina e Venezuela.


Interpretação econômica do indicador de protesto de títulos



Os efeitos da recessão econômica que atinge o Brasil são nefastos para a iniciativa privada. O recuo da demanda – aliado aos gargalos já conhecidos no lado da oferta – causou prejuízos para algumas firmas, enquanto outras encerraram suas atividades. Os prejuízos sobre o fluxo de caixa das empresas resultam, entre outros efeitos, na incapacidade de pagamento das dívidas contraídas para sustentar suas operações. O objetivo desse artigo é analisar o indicador de títulos protestados de pessoas jurídicas, relacionando-o com a atual conjuntura.


Compilado a partir das informações coletadas junto aos cartórios de todas as regiões do país, o índice da Boa Vista SCPC procura medir o grau de inadimplência das firmas. Na medida em que as condições econômicas são desfavoráveis, ou seja, quando há queda no PIB, espera-se um aumento da quantidade de débitos em atraso, uma vez que a renda diminui, e vice-versa. Portanto, a relação esperada entre ambas as variáveis é negativa.


O gráfico abaixo mostra a série histórica referente à variação percentual acumulada em 12 meses para o índice de títulos protestados das pessoas jurídicas e o Índice do Banco Central (IBC-BR), usado para “aproximar” o comportamento do PIB. De fato, a expectativa a priori em relação à crença inicial se confirmou.

Índice de Títulos Protestados (Pessoa Jurídica) e IBC-BR
(Variação % acumulada em 12 meses)


Os dados mostram que o indicador de títulos protestados parece antecipar, em certo grau, os movimentos do IBC-BR. Uma das hipóteses capazes de explicar esse fenômeno diz respeito ao efeito em cascata que o retardo nos pagamentos das obrigações financeiras gera sobre a cadeia na qual a firma está inserida. Por exemplo: o calote das empresas que vendem bens finais junto aos fornecedores prejudica suas operações, e, por conseguinte, toda a estrutura produtiva à montante.


A forte taxa de crescimento dos protestos de títulos ao longo dos últimos meses - principalmente a partir de 2015 - deve causar a moderação da variação do índice daqui em diante, devido à elevada base de comparação. Também contribui para esse movimento os primeiros sinais de estabilização da economia brasileira.

Fonte: Boa Vista SCPC
BCB (Série 24363 do SGS).

sábado, 27 de agosto de 2016

Você sabia? Todo o trabalhador com recursos no FGTS está perdendo dinheiro

A imagem abaixo mostra que a regra que remunera os depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (3% ao ano mais a Taxa Referencial) é bastante prejudicial para os trabalhadores. A correção, inclusive, é menor do que a inflação registrada pelo IPCA no período entre 2000 e 2015, ou seja, há perdas em termos reais. Se, por um acaso, o valor base de R$ 100 mil fosse reajustado pela Taxa SELIC, o montante seria quase quatro vezes superior ao preceito estabelecido para o FGTS. Confira!


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Qual a relação entre o endividamento das famílias e o PIB?



O crescimento brasileiro ao longo dos últimos anos foi fortemente baseado na demanda. Além da promoção de reajustes do salário mínimo acima da inflação, que elevou o poder de compra dos trabalhadores, o governo despejou crédito nos bancos públicos e provocou mudanças na legislação que viabilizaram, por exemplo, a contratação de crédito consignado. Esse conjunto de elementos ajuda a explicar os motivos pelos quais o endividamento das famílias avançou desde meados da década passada. O objetivo desse artigo é confrontá-lo com o desempenho do nível de atividade.


O gráfico abaixo mostra a evolução de duas séries históricas ao longo do tempo: o IBC-BR – variável usada para “aproximar” o comportamento do PIB – e o estoque de dívida das famílias como percentual da renda acumulada pelas mesmas ao longo dos últimos 12 meses. Em princípio, não se deve esperar nenhuma relação a priori entre ambas: o aumento da geração de riquezas eleva o denominador da razão supracitada, mas também permite que o consumidor tome mais dívidas porque sua capacidade de pagamento melhora, ou seja, expande-se o numerador.

IBC-BR e endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada nos últimos doze meses
(IBC-BR: série com ajuste sazonal jan/05 = 100; endividamento das famílias em %) 
Entretanto, a correlação entre ambos os índices é positiva e bastante forte. Uma das hipóteses possíveis para explicar esse fenômeno diz respeito a aspectos culturais: a sociedade brasileira, de forma geral, é menos “paciente”, ou seja, atribui maior valor para o consumo em detrimento da poupança. Como já sabemos, correlações não permitem dizer nada sobre a causalidade. Do ponto de vista econômico, faz sentido admitir que a atividade econômica interfira na renda e, por conseguinte, no indicador de endividamento. A inversão do sentido da análise também é factível: na atual conjuntura, por exemplo, o alto patamar de obrigações financeiras ajuda a deprimir ainda mais a atividade econômica, dado que as famílias necessitam sanear suas dívidas para voltar a tomar recursos emprestados. É provável, destarte, que se trate de um caso de simultaneidade entre ambas as variáveis.


O comportamento recente dessa relação nos últimos meses mostra que o desafio do governo é considerável. Como o nível de endividamento é relevante, há pouco espaço para o uso desse expediente visando aumentar o PIB. Para que esse cresça ao mesmo tempo em que aquele diminua (ou permaneça estável), torna-se necessário incentivar o lado da oferta da economia.

Fonte: BCB.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Qual a relação entre desemprego e inadimplência?



Conforme já demonstrado em outro artigo, a forte recessão que atinge a economia brasileira causou transformações no mercado de trabalho. O objetivo desse texto é mostrar de que forma o aumento dos desocupados como parcela da população economicamente ativa está relacionado com a falta de capacidade dos consumidores em honrar as dívidas assumidas via contratação de empréstimos.


O gráfico abaixo mostra a dispersão entre dois indicadores: a inadimplência dos consumidores – medida como o percentual do saldo de crédito com atraso superior a 90 dias – e a taxa de desemprego, ambos referentes ao primeiro trimestre de 2016 para todos os estados do Brasil. Além da correlação positiva, vale destacar que das sete Unidades da Federação com a maior taxa de inadimplência, cinco também apresentam as maiores incidências de pessoas que procuram trabalho, mas não conseguem. Os estados com a pior situação encontram-se no Norte e no Nordeste.

Taxa de desemprego e taxa de inadimplência dos consumidores - 1º Trimestre de 2016
(Em %)

Não é possível afirmar qual a relação de causalidade entre as variáveis. Contudo, a justificativa que mais parece fazer sentido do ponto de vista econômico é de que o desemprego causa a inadimplência. A piora daquele provoca queda no fluxo de renda dos trabalhadores, deteriorando a capacidade desses agentes em pagar os compromissos financeiros previamente assumidos. Os efeitos econômicos da inadimplência já foram discutidos nesse texto, e alimentam um círculo vicioso que deprime ainda mais a atividade econômica.



Como existe uma defasagem entre os movimentos do PIB e do mercado de trabalho, e em linha com o que foi visto sobre os indicadores antecedentes do nível de atividade, deveremos observar uma melhora lenta e gradual da taxa de desemprego somente em 2017, gerando reflexos positivos sobre a inadimplência.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Mercado de ações e mercado de trabalho: o que nos dizem os indicadores antecedentes?

O presente artigo dá seguimento à análise de alguns importantes indicadores antecedentes da economia brasileira, capazes de fornecer evidências sobre a trajetória esperada para o nível de atividade no futuro próximoAs variáveis selecionadas nesse texto exprimem a relação entre o mercado de ações e o de trabalho.
No primeiro caso, optou-se pelo valor médio mensal (em pontos) do Ibovespa: carteira teórica composta por alguma das principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Esses ativos representam a expectativa de lucro futuro das empresas, trazido a valor presente. É importante destacar que as cotações de mercado levam em consideração todo o conjunto de informação disponível pelos agentes econômicos, incluindo os sentimentos a respeito do cenário vindouro.

Para o mercado de trabalho, usou-se Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), calculado pela FGV. De acordo com a metodologia de cálculo, o objetivo do mesmo é antecipar os rumos do emprego no Brasil. Vale ressaltar que ambas as variáveis guardam uma correlação positiva interessante, conforme o gráfico abaixo. Além disso, estão temporalmente alinhadas, dado o caráter antecedente das mesmas.

Ibovespa e Indicador Antecedente de Emprego
(Em pontos)
Não é possível inferir relação de causalidade entre ambas as variáveis, uma vez que há bons argumentos para os dois lados. Por um lado, se o Ibovespa aumenta, a expectativa de lucro das empresas também é maior, o que tende a provocar aumento das contratações de mão de obra no futuro. Por outro, a melhoria nas condições futuras do emprego (fator de produção fundamental no processo produtivo) auxilia na geração de ganhos mais altos das firmas. Portanto, somente testes estatísticos podem nos dar um indicativo sobre a causalidade dessa relação.

Fonte: Ibovespa (Série 7845 do SGS Bacen).

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A economia brasileira chegou ao "fundo do poço"?



A parceria entre a Conference Board e a FGV resultou no desenvolvimento de dois tipos de indicadores para o nível de atividade do Brasil: um coincidente e outro antecedente. O primeiro tenta antever a direção do ciclo econômico nos meses subsequentes, enquanto o segundo está em alinhado – do ponto de vista temporal – com a trajetória do PIB. Vários dos textos deste blog já demonstraram exemplos de ambos os casos, mostrando sua utilidade dentro da análise de conjuntura.


Os relatórios divulgados periodicamente mostram os resultados para os últimos seis meses em relação ao período de referência. Além disso, as publicações ressaltam as influências de cada uma das variáveis que compõem esses índices. De posse dessas informações, o objetivo desse texto é averiguar se existem evidências que permitam afirmar que a economia brasileira atingiu o “fundo do poço”. O gráfico abaixo mostra a evolução do indicador antecedente e do coincidente nos últimos seis meses, assumindo dezembro de 2015 como o valor de referência (100). Enquanto esse registra certa estabilidade, aquele demonstra crescimento.

Indicador coincidente e antecedente do PIB do Brasil
(% de variação em relação à base: dez/15)

Para avançarmos nessa análise, devemos estudar a evolução das influências desagregadas do indicador antecedente a cada mês, conforme a tabela abaixo.

Principais influências mensais das variáveis do indicador antecedente do PIB do Brasil
(Em pontos percentuais)



A leitura dos dados mostra três destaques principais. O primeiro deles fica por conta da elevação dos índices de expectativa com relação aos próximos seis meses. A confiança aumentou consistentemente a partir de abril, quando o processo de impeachment da presidente Dilma ganhou força no Congresso Nacional. Conforme visto em outras oportunidades, famílias mais otimistas tendem a gastar mais e são mais suscetíveis a demandar crédito. Por sua vez, empresários da indústria realizam mais investimentos produtivos, que visam ampliar a capacidade produtiva da economia. Ademais, os donos dos estabelecimentos dos serviços tendem a expandir seus empreendimentos.


Outro fator positivo diz respeito à elevação dos termos de troca. Isso significa que a razão entre os preços de exportação e os de importação das mercadorias aumentou, ou seja, a receita obtida com a venda dos bens nacionais permite adquirir mais produtos estrangeiros em valor. A explicação desse fenômeno passa pela majoração dos preços dos produtos básicos (commodities), que representam 45,6% da pauta de exportação do BR. Ao longo do primeiro semestre, a cotação do petróleo e do minério de ferro, por exemplo, cresceram aproximadamente 30% na comparação com o mesmo período de 2015.


Por fim, a Bolsa de Valores também registrou valorização substancial nos últimos seis meses, fruto, entre outras coisas, da melhora na percepção sobre a condução da política econômica no futuro. Isso pode ser atribuído à expectativa de redução dos intervencionismos que fizeram com que as empresas estatais sofressem ingerências, resultando na perda de boa parte do seu valor de mercado.

Em suma, existem evidências que nos permitem afirmar que chegamos ao “fundo do poço”. No entanto, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para recuperar todas as perdas incorridas ao longo de 2015 e 2016.