sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Impactos da volatilidade da taxa de câmbio


Os movimentos da taxa de câmbio ao longo do tempo sempre geram ganhadores e perdedores. Quando, por exemplo, o Real se torna mais fraco em relação ao Dólar, o setor exportador sai ganhando, dado que a rentabilidade dos embarques aumenta. Por outro lado, se a moeda nacional se valoriza em comparação com a estrangeira, as importações ficam mais baratas. A cotação, que representa um dos vários preços existentes na economia, tem papel fundamental de sinalização, direcionando os incentivos para a compra ou a venda no exterior.


No entanto, há um elemento que faz com que os dois lados saiam perdendo. Trata-se da volatilidade exacerbada da taxa de câmbio. Quanto maiores são as variações, menor é a previsibilidade dos agentes. Por exemplo, empresas essencialmente exportadoras perdem boa parte da capacidade de realizar estimativas adequadas para o seu faturamento no futuro. As importadoras, por sua vez, podem incorrer em grandes erros ao calcular os custos esperados. A má alocação de recursos, derivada desse fenômeno, gera perda de eficiência.


O índice de volatilidade da taxa de câmbio, calculado pelo IPEA, alcançou o valor mais alto desde o período compreendido pelo último trimestre de 2008 e os primeiros três meses de 2009, quando os maiores efeitos da crise financeira internacional foram sentidos no Brasil. O gráfico abaixo mostra a série histórica com dados diários desde 2003.

Volatilidade da cotação da taxa de câmbio
 
As causas da atual instabilidade podem ser divididas em dois grandes blocos. Primeiramente, convém destacar os fatores de ordem externa, em função da incerteza envolvendo o momento considerado apropriado pelo Banco Central americano para começar a aumentar a taxa de juros dos EUA. Todavia, o segundo vetor é mais importante, relacionado ao quadro doméstico. Além da recessão prevista para a economia brasileira em 2015 e 2016, o crescimento esperado para 2017 e 2018 é pífio. A turbulência interna também é agravada a partir da crise política, que tem minado a confiança dos agentes econômicos.


Só é possível esperar que a volatilidade da taxa de câmbio diminua quando houver uma melhora do cenário no Brasil. Entretanto, diante da complexidade dos problemas, isso não deverá ocorrer no curto prazo.

Fonte: IPEA, a partir da série histórica do IPEADATA.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma análise do desempenho dos setores da indústria de transformação do Brasil

O comportamento da produção industrial apresentou dois períodos distintos ao longo dos últimos anos. Entre 2003 e 2008, houve aumento no volume (quantidade de mercadorias produzidas) de 25,3%. Já entre 2009 e 2014, houve queda de 0,63%. Ademais, a análise dos dados desagregados por setores da atividade mostra que, em alguns casos, as trajetórias foram bastante distintas em relação ao total. O objetivo desse post é tentar compreender alguns dos elementos que influenciaram nas suas dinâmicas de crescimento. 


Para ajudar na elucidação do problema levantado anteriormente, optou-se por tentar identificar uma característica fundamental relativa ao processo de transformação de mercadorias: o grau de intensidade da utilização do fator trabalho. O gráfico abaixo mostra o crescimento acumulado entre 2003 e 2014 da produção de 22 categorias da indústria de transformação brasileira (em %) e um índice que procura medir a importância da utilização de mão de obra em relação ao uso de mecanização. Esse foi calculado a partir do inverso da razão do PIB dos subsegmentos, dado pelo valor da transformação industrial (VTI) em 2013, pelo número de trabalhadores com carteira assinada no mesmo ano. Há uma clara correlação negativa entre ambas, sinalizando que uma maior intensidade em capital esteve associada a um melhor desempenho em termos de produção de bens (e vice-versa).

Intensidade da utilização de mão de obra (2013) e crescimento acumulado da produção (2003 - 2014) por setores da indústria de transformação do Brasil
(Em trabalhadores por R$ e %)


A partir desse resultado, temos um indicativo do que ocorreu. Os custos com salários foram justamente os que tiveram os maiores avanços entre os que compõem o Índice de Custos Industriais, compilado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O incremento das despesas com pessoal foi mais de duas vezes superior em relação ao total, conforme aponta a tabela abaixo.

 Indicador de Custos Industriais da CNI

(Var. % acumulada entre o primeiro semestre de 2007 e mesmo período de 2015)

Convém lembrar que a economia brasileira foi marcada ao longo dos últimos anos pelo forte crescimento dos salários em termos reais, ou seja, já descontando a variação do nível de preços. Isso se deve a atual regra de reajuste do salário mínimo, garantindo que toda a inflação acumulada no ano imediatamente anterior seja reposta, aliada à variação do PIB de dois anos anteriores ao de referência. Essa lei, que começou a vigorar a partir de 2006, deverá se estender, pelo menos, até 2019. Em suma, os setores da indústria de transformação que optem por continuar a usar relativamente mais mão de obra deverão continuar a perder competitividade ao longo dos próximos anos.

Fonte: Produção Industrial (IBGE).
VTI (IBGE).
Número de Empregados (RAIS).
Indicador de Custos Industriais (CNI).