segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Os termos de troca e a Produtividade Total dos Fatores do Brasil


Mesmo com um grau de abertura minúsculo em comparação com a média internacional, o comércio exterior exerce um importante efeito sobre o Brasil. Um dos primeiros textos do blog, por exemplo, demonstrou que as commodities apresentam uma importância considerável em termos de crescimento do PIB. O objetivo desse post é compreender os efeitos que os preços dos embarques e desembarques exercem sobre a nossa dinâmica econômica.


Os termos de troca são definidos como a razão entre os preços de exportação e os de importação de um determinado país para todos os tipos de mercadorias (incluindo produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados). Por exemplo, na medida em que essa relação aumenta,  a receita obtida com a venda dos bens nacionais no exterior eleva o poder de compra dessa nação, permitindo com que mais produtos estrangeiros sejam adquiridos. No caso do Brasil, convém notar o expressivo aumento dessa variável entre 2005 e 2011, fruto da forte demanda da China por commodities, necessárias para sustentar suas aceleradas taxas de crescimento no período. A piora dessa razão a partir de 2012 também ajuda a explicar parcialmente o ritmo mais lento do nível de atividade do BR.


Um rápido e sustentado avanço dos nível de renda é um dos principais objetivos de política econômica. Há, basicamente, duas formas para alcançá-lo. A primeira delas é utilizar mais fatores de produção, como trabalho, capital e terra. A outra alternativa é elevar a eficiência dos mesmos, ou seja, com a mesma quantidade de fatores, gerar mais produção. Essa pode ser estimada através do que é conhecido por Produtividade Total dos Fatores (PTF) Tal medida indica a parcela do crescimento que não pode ser explicada pela acumulação de fatores de produção.


O gráfico abaixo mostra a variação percentual dos termos de troca, de acordo com o indicador calculado pela FUNCEX, e a PTF, conforme os dados da Conference Board, entre 1990 e 2014. Há uma clara correlação positiva entre as variáveis: isso significa que aumentos na primeira tendem a ser acompanhados, na média, por uma elevação da segunda, e vice-versa.


Termos de troca e Produtividade Total dos Fatores do Brasil
(Em % - variação anual)

É interessante notar, portanto, que a dinâmica da produtividade está bastante atrelada à variação dos preços relativos. Nesse sentido, é fundamental do ponto de vista de formulação de políticas públicas tornar o crescimento da PTF dissociado dos termos de troca. Dito de outra forma, deve-se aumentar a eficiência dos insumos sem a necessidade de um choque externo favorável sobre os preços. Para tanto, uma das melhores alternativas é investir no aumento do capital humano, tornando a mão de obra mais qualificada para incorporar métodos e sistemas de produção mais eficazes. Outro caminho passa pela promoção de uma abertura comercial, possibilitando assim uma diminuição dos custos para a aquisição de bens do exterior voltados para a expansão da produção.

Fontes: Termos de Troca (IPEADATA).
PTF (Conference Board)

sábado, 19 de setembro de 2015

Como a qualidade da logística e a produtividade estão relacionados



Um dos objetivos mais desejáveis do ponto de vista econômico para firmas e países é tornar os fatores de produção mais eficientes. Isso significa aumentar a produção com a mesma quantidade de capital e/ou de trabalho. A intenção desse post é entender um pouco mais sobre a produtividade: um dos principais motores de uma economia de mercado.

Ganhos de produtividade podem surgir a partir de uma diminuição dos custos. Nesse sentido, a logística, ou seja, os métodos relativos à organização das empresas voltados para os escoamento das mercadorias, requer um contínuo processo de aperfeiçoamento para minimizar os dispêndios relacionados com o transporte, armazenagem e estoque.

O Índice de Performance Logística (LPI), compilado pelo Banco Mundial, é composto por variáveis quantitativas e qualitativas (essas obtidas através de surveys junto a profissionais da área) e se subdivide em seis grandes componentes, a saber: eficiência das alfândegas, qualidade da infraestrutura, facilidade de obtenção de preços competitivos para operações de transporte, qualidade dos serviços de logística (incluindo o despache aduaneiro), capacidade de rastrear mercadorias e frequência com que os produtos chegam aos seus destinos dentro do programado. O indicador varia de 1 (baixa qualidade) até 5 (alta qualidade). Os dados sobre a produtividade do trabalho (medida em dólares de 2014 por hora) foram obtidos junto à instituição "The Conference Board". O Brasil está representado pelo ponto laranja, junto com outras 61 nações. Há uma clara correlação positiva entre as variáveis: quanto melhor o desempenho no LPI, maior tende a ser a produtividade do fator trabalho.

Índice de Performance Logística (LPI) e produtividade do trabalho
(em pontos e em dólares de 2014 por hora)

O Brasil tem a 12ª pior estrutura de logística e a 13ª menor produtividade do trabalho. Uma das maneiras de melhorarmos nesses rankings é via investimentos em infraestrutura por parte do setor estatal. No entanto, não houve nenhum avanço nesse sentido ao longo dos últimos anos. Em relação ao PIB, esses gastos têm se mantido próximos a 1%, algo muito pequeno para as nossas necessidades. Também é necessário que as empresas melhorem os seus processos "da porta para a dentro". Contudo, a atual conjuntura recessiva impõe um estreitamento das margens de lucro por parte das empresas, dificultando a situação. Em suma, a produtividade está intimamente ligada a uma boa estrutura logística.

Fonte: LPI.

domingo, 13 de setembro de 2015

A relação entre capital humano e riqueza



O trabalho exerce uma importância central em inúmeras atividades produtivas. Compreender alguns dos seus elementos é fundamental para explicar a própria dinâmica de uma economia de mercado. Nesse sentido, vários artigos acadêmicos já demonstraram a relevância que o capital humano possui para explicar o nível de renda dos países. O objetivo desse post é tentar entender essa relação.

O Índice de Capital Humano, calculado pelo Fórum Econômico Mundial anualmente, apresenta como ponto forte a abrangência. O indicador é composto por dois grandes temas - "Aprendizagem" e "Emprego" -, avaliados para cinco faixas de idade: abaixo de 15 anos, entre 15 e 24, entre 25 e 54, entre 55 e 64 e mais que 65. O primeiro dos grandes pilares investiga questões como a qualidade da educação dos mais jovens e dos que já estão empregados. Já o segundo vetor pondera temas relacionados à qualidade dos empregos, à abrangência da participação de diferentes grupos (homens, mulheres e idosos) na força de trabalho e à vulnerabilidade: por exemplo, a existência ou não de escravidão.

Ao todo, são 46 variáveis averiguadas para 124 nações. O Brasil ficou na 78ª colocação no ranking de 2015. Na avaliação dos subitens para o nosso País, conclui-se que a baixa qualidade da educação primária (posição 109) e do sistema educacional como um todo (posição 110), além da dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados (posição 108) puxaram a classificação para baixo.

O gráfico abaixo mostra a correlação existente entre os valores do Índice de Capital Humano e o PIB per capita em dólares de 2014, de acordo com os dados do Banco Mundial. O Brasil está destacado no ponto laranja. Há uma clara correlação positiva entre as variáveis. Isso significa que, por exemplo, maiores níveis de riqueza tendem a ser acompanhadas, em média, por um valor mais alto do indicador.

Índice de Capital Humano e PIB per capita
(Em valores e US$)
Dois fatos chamam a atenção. Em primeiro lugar, a reta que melhor se ajusta aos pontos é não linear. Isso significa que os ganhos de renda tendem a ser cada vez maiores quanto mais elevado for o incremento do Índice. Em segundo lugar, o Brasil está acima dessa linha. Sabendo que desvios em relação à média tendem a ser corrigidos com o passar do tempo, há duas opções: (a) empobrecer ou (b) melhorar a qualidade do capital humano como um todo. Infelizmente, é a primeira alternativa que está em curso. Em suma, a ausência de políticas que aumentem a produtividade do fator trabalho impede um crescimento da riqueza no Brasil.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Os percalços da indústria brasileira e o Índice de Preços ao Produtor



A indústria brasileira passa por uma crise sem precedentes. Os dados mais recebtes do PIB mostram que, pelo terceiro trimestre consecutivo, o setor apresentou retração (comparação com os três meses imediatamente anteriores, na série com ajuste sazonal). No caso do subsegmento de transformação, o quadro é ainda mais preocupante: são dois anos de queda ininterrupta.


Um dos principais problemas diz respeito à falta de capacidade da categoria em repassar o aumento dos seus custos para os preços. O Indicador de Custos Industriais (ICI), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que, desde o primeiro trimestre de 2010, as despesas com a produção aumentaram 27,3%. O principal destaque foi o valor da mão de obra, que avançou 51,4% nesse período. A atual regra de reajuste do salário mínimo – inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos atrás – pode ser apontada como uma das principais causas dessa forte majoração.


Teoricamente, o setor deveria repassar esses incrementos para o preço de venda das mercadorias, de modo a manter a competitividade. No entanto, isso não vem ocorrendo, o que ajuda a explicar um pouco da atual dinâmica da indústria. Isso pode ser comprovado através dos dados do Índice de Preços ao Produtor (IPP). Essa estatística procura captar os preços dos produtos na “porta da fábrica”, sem a incidência de impostos e dos fretes. De acordo com esse índice, a variação acumulada no primeiro trimestre de 2015 foi de apenas 1,9%, muito menor do que, por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (3,8%) e do próprio avanço dos custos do setor secundário. Esse cresceu 3,0% entre os três primeiros meses de 2015 ante o mesmo período de 2014.


Duas razões podem ser apontadas como causas desse fenômeno. Em primeiro lugar, a taxa de câmbio, durante muito tempo, permaneceu excessivamente sobrevalorizada, ou seja, o poder de compra do Real era muito grande em relação ao Dólar, tornando as importações relativamente baratas. Diante disso, houve um forte crescimento da concorrência com os produtos do exterior. Nesse cenário, se houvesse um repasse muito grande, as empresas corriam o risco de perder uma parcela significativa do mercado.


Além disso, a atividade econômica está em forte declínio desde a metade do ano passado. As empresas, nessa conjuntura, recorrem ao expediente de reduzir os preços para minimizar os prejuízos. Isso fica mais claro no gráfico abaixo. As séries históricas mostram a variação percentual acumulada em 12 meses da produção industrial (linha clara) e do IPP (linha escura). Há uma clara correlação positiva entre ambas: maiores valores da primeira tendem a ser acompanhadas, em média, por uma elevação da segunda, e vice-versa.

Produção industrial e Índice de Preços ao Produtor (IPP)
(Var. % acumulada em 12 meses)
 

O ajustamento da competitividade industrial pode ocorrer através de diversas formas. Uma delas é através da desvalorização da taxa de câmbio, que ajuda a limitar a concorrência com os importados. A outra é através da diminuição dos salários, algo que está ocorrendo em função do aumento da taxa de desemprego. Essas alternativas são dolorosas, mas surgem como as únicas possibilidades viáveis no atual momento. Isso porque os problemas de ordem estrutural, ao longo dos últimos anos, não foram atacados por parte da esfera estatal. Portanto, uma retomada da indústria só deverá ocorrer quando houver uma real capacidade de repasse dos custos para os preços de venda.

Fonte: Produção industrial (IBGE).
Índice de Preços ao Produtor - FGV. (Série 225 do SGS/BACEN)
Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IBGE.  (Série 431 do SGS/BACEN)
Índice de Custos Industriais (CNI).